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Claudio Penteado

Com a pandemia, o horário eleitoral será decisivo para o eleitor escolher seus candidatos? NÃO

Mantra 'tempo de TV e dinheiro' já foi quebrado em 2018

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Claudio Penteado

Doutor em ciências sociais pela PUC-SP, é professor da Universidade Federal do ABC e pesquisador do Laboratório de Tecnologias Livres (LabLivre/UFABC) e do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (Neamp/PUC-SP)

O horário eleitoral gratuito será um elemento do complexo ecossistema de comunicação contemporâneo, que integra diferentes formatos e tipos de mídia, formando um sistema híbrido. As chamadas redes, formadas por plataformas de redes e mídias sociais de internet, já mostraram sua força nas eleições de 2018 com a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência, quebrando o mantra da ciência política de que o sucesso eleitoral está associado a tempo de TV e dinheiro.

Mas o fenômeno não ficou restrito à vitória bolsonarista. Vários candidatos com forte influência nas redes conseguiram se eleger, inclusive com votações expressivas.

A vitória desses candidatos não ficou restrita à onda antipetista e ao bolsonarismo: postulantes a cargos proporcionais da esquerda também tiveram bom desempenho em diferentes regiões do país.
Estudos recentes têm mostrado que temas e polêmicas que emergem das redes influenciam processos políticos e exercem pressão sobre o sistema político e até sobre a própria imprensa.

Essas pesquisas ilustram uma transformação do processo de comunicação, no qual as diferentes plataformas de mídia social (Facebook, Twitter, YouTube e ​WhatsApp, entre outras) servem de espaço para um novo processo de comunicação no qual os usuários têm um papel ativo na produção, transmissão e difusão das informações —bem como a atuação de agentes não humanos (algoritmos e robôs). Essa configuração possibilita formas de comunicação altamente personalizadas (ou customizadas), na qual os usuários interagem principalmente com conteúdos ajustados para o seu perfil, rompendo a lógica da comunicação massiva voltada para o cidadão médio.

Esse ambiente permite a formação de nichos. Eles constroem discursos e identidades coletivas que podem ser convertidos em votos para determinados candidatos e candidatas. Um exemplo do resultado dessa comunicação em nichos é a eleição de 2018. Mesmo com a ascensão de políticos conservadores, candidatas feministas, por exemplo, tiveram bom desempenho eleitoral, conseguindo eleger uma bancada expressiva, principalmente pelo engajamento nas redes de movimentos feministas.

Um outro fator da comunicação nas redes é a possibilidade da campanha permanente. Ao mesmo tempo em que assistimos à redução do tempo e do espaço para a chamada “campanha oficial” pela legislação eleitoral, a interação pelas plataformas de redes sociais se transformou em prática do cotidiano da maioria dos eleitores.

Pelas diferentes plataformas, candidatos e políticos interagem quase que diariamente com os seus seguidores; podem medir humor, desejos e interesses de seus alvos. Além disso, os milhões de usuários vão criar uma rede de interações de consumo e distribuição de notícias e informações de fontes comuns, criando visões de mundo compartilhadas que expressam suas identidades e podem ser materializadas em votos, mobilização e engajamento nas campanhas.

Um desafio para os candidatos é conseguir articular apoio de diferentes nichos em uma sociedade altamente fragmentada. Algumas candidaturas conseguem se eleger somente com os votos de suas bolhas (nichos); contudo, a maior parte precisa conseguir entrar em outras comunidades.

Essa situação se torna mais visível para candidaturas aos cargos majoritários (prefeitos), que precisam conseguir dialogar e conquistar os votos de diferentes grupos. E esse trabalho já começou pelo monitoramento das redes das equipes de campanha.

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