As campanhas já estão nas ruas em uma das maiores eleições democráticas do mundo. Vamos eleger os futuros representantes nos municípios, onde estão nossas necessidades mais próximas, com o apoio de cerca de 2 milhões de mesários.
Isso tudo ocorrerá ao mesmo tempo em que vivemos duas crises profundas: a primeira é a pandemia de Covid-19, que gerou uma crise sanitária e econômica sem precedentes na nossa recente história; e a segunda é a desinformação acelerada pelo uso das redes digitais.
A desinformação sobre o processo eleitoral no ambiente digital é sofisticada e operada por atores profissionais que compreenderam como atuar para propagar mensagens com interesses velados e que resultam na distorção da liberdade do voto. Os efeitos por desinformação no ambiente digital ainda são complexos de serem debatidos e estão desafiando nações ao redor do mundo, pois é fundamental a preservação e manutenção de direitos como da liberdade de expressão nas redes.
Esse problema não será resolvido apenas com a ação de especialistas em tecnologia ou comunicação, ou mesmo pelo Legislativo ou Judiciário. Não devemos esperar ou aguardar uma solução pelo tempo: este é um desafio que necessita de ações e envolvimento de toda a sociedade. Nesse sentido, é fundamental compreender os incentivos que o território digital oferece para que as informações circulem de maneira tão rápida e direcionada.
Um deles é o acesso facilitado para explorar vieses cognitivos dos usuários na rede, seja por algoritmos ou pela velocidade de propagação que as plataformas permitem. Como, por exemplo, o viés de confirmação, que pode ser definido, de maneira simplista, como a tendência de privilegiarmos informações, independentemente de serem elas verdadeiras ou falsas, em razão de nossas crenças já preestabelecidas.
Outro incentivo é o “microtargeting”: uma vez que as pessoas estão divididas por suas escolhas e preferências em grupos (bolhas) na rede, o envio de mensagens pode ser cada vez mais segmentado com base nas crenças de cada “bolha”. Essa facilidade permite que uma mensagem seja direcionada de diversas maneiras para diversos grupos.
A pandemia também acelerou a digitalização das democracias ao redor do mundo. As instituições estão sendo obrigadas a se comunicar nessa divisão e de novas formas —e no processo eleitoral é fundamental o acesso à informação precisa. Está claro que as informações que circulam no ambiente digital impactam nossos hábitos e a maneira pela qual nos relacionamos e participamos do debate público.
Nos últimos 30 anos já elegemos no Brasil representantes de diversos pontos do espectro político, para diversos cargos, e contamos com credibilidade e agilidade neste processo como poucas democracias no mundo. Devemos atuar juntos para que informações sobre a crise sanitária e o processo eleitoral sejam espalhadas por milhares de brasileiros engajados para a construção de um território digital mais saudável e que impacte nossas escolhas no progresso e desenvolvimento de nossos municípios.
Há diversos dispositivos que foram atualizados para 2020 para amenizar os incentivos negativos no ambiente digital, como a vedação do disparo em massa e a responsabilidade por verificar as informações que irão circular na rede por candidatos e partidos.
A participação de todos nesse processo é essencial: busque informações corretas, do maior número de fontes possível e converse sobre o assunto em casa e com todos com quem estiver conectado. Esse é o mote do projeto #euvotosemfake, que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) desenvolverá nas eleições deste ano.
Não deixe de desconfiar e verificar uma mensagem que passe a sensação de urgência. Leve seu título de eleitor no seu celular pelo aplicativo e-título da Justiça Eleitoral, siga as redes digitais do TSE e do Tribunal Regional Eleitoral de seu estado. É importante que todos se empenhem em resolver esse desafio tão complexo. Só combateremos a desinformação com informação de qualidade.
TENDÊNCIAS / DEBATES
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