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Muros de Doria

Apesar de méritos, ações de tucano na cidade mostram custos do afã marqueteiro

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Muro verde da avenida 23 de Maio - Ronny Santos - 23.mar.19/Folhapress

A curta passagem de João Doria (PSDB) pela prefeitura paulistana, da qual abdicou em 2018 para se candidatar ao governo do estado, foi marcada pelo ímpeto publicitário de produzir marcas eleitorais vistosas por meio de ações financiadas pelo setor privado.

Hoje se vê, contudo, que os resultados da ofensiva foram em alguns casos insatisfatórios ou, contrariando promessas do ex-alcaide, geraram despesas ao erário. O corredor verde que ladeia a avenida 23 de Maio é exemplo paradigmático.

Implantado em 2017, após investidas de Doria contra os grafites que adornavam o trecho, o projeto possui o mérito evidente de ter levado painéis com plantas e folhagens a uma via de tráfego intenso. Além do prazer visual, a medida contribui para a regulação da temperatura e a absorção do barulho.

Foi questionável, entretanto, a maneira pela qual a administração municipal propagandeou o empreendimento —tratando-o como compensação pela retirada de árvores da cidade por obras.

A prefeitura se valeu de um acordo firmado na gestão Fernando Haddad (PT), em que uma construtora pôde substituir o plantio de milhares de árvores pela colocação de jardins suspensos.

Ocorre que os impactos ambientais da obra de 3 km são irrisórios. Dado o número de árvores que deixaram de ser plantadas, o muro deveria ter extensão de ao menos 1.500 km para proporcionar o efeito ambiental correspondente.

Como se não bastasse, a manutenção dos jardins foi deixada a cargo de uma empresa que, meses depois, desistiu do serviço, sob a alegação de falta de recursos. Desde então, os custos foram assumidos pela prefeitura, gerando gasto anual de cerca de R$ 1,5 milhão.

Trajetória semelhante teve o muro entre a raia olímpica da USP e a marginal Pinheiros. A obra de 2018, orçada em R$ 15 milhões e bancada por 44 empresas, substituiu a antiga divisão de concreto por centenas de placas de vidro.

A quebra constante das placas, todavia, fez da nova proteção um transtorno tanto para a prefeitura como para a universidade. No ano passado, laudos da Polícia Civil mostraram que o problema foi causado por falhas na instalação.

Para quem vier a ocupar a prefeitura a partir de 2021, incluindo o atual prefeito e candidato de Doria, Bruno Covas, os episódios não só constituem uma questão a ser resolvida como servem de lição sobre os custos do afã marqueteiro.

editoriais@grupofolha.com.br

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