Sou a primeira mulher eleita vice-governadora e, agora, governadora interina do estado de Santa Catarina. Pelo menos esta afirmação é irrefutável. Todo o resto, tentam relativizar. Há um fenômeno curioso na política: em todos os casos, os inconformados, os derrotados ou os que se ocupam em tentar destruir reputações surgem com o propósito de sujar imagens. Não se satisfazem em colocar na discussão um plano de governo: é preciso atacar o aspecto pessoal, revirar o baú familiar, procurar qualquer coisa que seja uma fofoca capaz de saciar apetites.
Muito se questionou sobre a pergunta do meu pai e suas opiniões. Afirmaram que não respondi diretamente. Estava claro, para mim, como sempre esteve essa questão. Não compactuo com o nazismo, assim como rechaço qualquer regime, movimento ou ideologia totalitária que atente contra as instituições democráticas.
Pela segunda vez me senti sendo julgada pelas atitudes dos outros. A diferença, aqui, é que não há o devido processo legal, a possibilidade de defesa e, principalmente, o interesse em ouvir a outra parte —os assassinos de reputação miraram suas canetas para a minha família, não apenas para mim.
Respeito meu pai. Não concordo com seu posicionamento em relação ao nazismo e à relativização do processo histórico. Mas o amo como filha. E todos nós, em nossa intimidade, quando estamos sozinhos, sabemos o que é não concordar com a outra geração —e que é preferível não tocar em determinados assuntos a escolher o caminho do embate, que, certamente, em todos os casos, já foi percorrido.
Espero gastar minhas energias trabalhando por Santa Catarina e pelo Brasil, sem precisar justificar-me. Sei que não foi a primeira vez e nem será a última em que a minha intimidade virá a público. Neste momento me lembro do ensinamento do Salmo 34, quando diz: “Aparta-te do mal, e faze o bem; procura a paz, e segue-a”.
Em novembro de 2018 desembarquei em Israel a convite da Comunidade Internacional Brasil & Israel para receber o título de Embaixadora Extraordinária da Paz, antes mesmo de assumir o cargo para o qual fui eleita.
Assumo neste momento o governo do Estado interinamente com a proposta e com os ideais que sempre me motivaram: unir Santa Catarina, construir pontes com os municípios e a Assembleia Legislativa, pacificar os ânimos e buscar em Brasília um diálogo que aproxime o estado do governo federal, buscando sempre o melhor para os catarinenses.
O atual modelo de fragmentação, não apenas do nosso estado mas de todo o país, inviabiliza qualquer processo de construção coletiva. Por outro lado, os estados não têm a capacidade e a autossuficiência, e dependem do governo federal para isso.
Por fim, uma outra verdade irrefutável é a gratidão que tenho. Gratidão a Deus, que me deu forças para enfrentar os processos de impeachment; àqueles que permaneceram ao meu lado, firmes e confiantes na Justiça e na minha inocência; aos que se afastaram de mim, pois pude perceber em quem realmente confiar; à Karina Kufa e Ana Blasi, por incansavelmente perseguirem a Justiça, defendendo-me nestes processos —não apenas de uma maneira técnica, que foi impecável, mas, por muitas vezes, trazendo conforto ao meu coração, dividindo comigo o peso e o desgaste daquele momento extremamente difícil e solitário para mim.
Ser mulher, em qualquer ambiente, mas, sobretudo, nos espaços de poder, é uma tarefa dupla. Porque não temos uma esposa por trás de nós para dividir as tarefas da vida pessoal, como têm os homens. E, dessa forma, o percurso é maior. Agradeço, por fim, à minha família, que tanto valorizo, a quem devo respeito e que, por muitas vezes, é exposta injustificadamente.
Cheguei até aqui com as minhas próprias pernas. Espero poder trabalhar incansavelmente para o povo catarinense. Comprometo-me a dar todo o esforço possível, mesmo que isso me leve ao esgotamento, em prol de Santa Catarina, através de metas objetivas, diálogo e união. E espero, por fim, ter meu nome lembrado pelo meu trabalho.
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