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Queima de esperança

Desorientação da política econômica impõe custos e ameaça elevar juros do BC

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O ministro da Economia, Paulo Guedes - Pedro Ladeira/Folhapress

A balbúrdia criada pelo propósito de criar o programa Renda Cidadã, enquanto o governo expõe conflitos internos e o flerte com a irresponsabilidade orçamentária, já degrada a situação financeira do país e das contas públicas.

Para encerrar uma semana desastrosa, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a expectativa de manter baixas as taxas de juros será revertida caso o governo recorra a manobras que burlem o teto de gastos.

E os temores se acentuaram com a refrega pública entre os ministros do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e da Economia, Paulo Guedes —o primeiro a indicar que o programa social sairá de qualquer maneira e sendo tachado de “fura-teto” pelo segundo.

Os juros de prazo mais longo, que não são influenciados diretamente pelo BC, sobem desde fins de agosto e deram salto ainda mais preocupante na semana que passou, em consequência das incertezas quanto ao futuro da política fiscal.

Como resultado, o Tesouro Nacional tem de pagar taxas mais altas para financiar a enorme e crescente dívida pública e tomar empréstimos de prazo mais curto.

Na prática, portanto, o país inteiro paga caro pela desorientação do governo de Jair Bolsonaro.

Não fosse isso, as cotações do dólar, que voltaram à casa dos R$ 5,60, certamente teriam alta menor, dada a situação confortável nas contas externas. Outro sinal de desconfiança e piora nas condições de financiamento transparece na queda forte da Bolsa de Valores desde agosto, agora intensificada.

O problema pode parecer esotérico além do mundo da finança. Mas pode ser comparado a uma doença séria insidiosa ou à qual não se dá tratamento adequado.

A alta de juros contamina toda a economia. Eleva o custo do investimento e provoca insegurança geral, o que induz também à retração do consumo das famílias.

Aspecto mais abstruso, porém relevante, a concentração dos vencimentos da dívida em prazo mais curto provoca aumento de risco de refinanciamento —o que por sua vez tende a se traduzir em custos mais altos para o governo.

A inépcia do Planalto provoca também tensão política gratuita, o que prejudica a tramitação de reformas fundamentais.

A recuperação econômica vinha em ritmo até superior ao esperado, graças aos auxílios para pessoas mais pobres, assalariados formais, estados e municípios. A sustentação desse ritmo sempre foi incerta, pois o gasto público extraordinário terá de ser cortado.

Manter os juros em níveis baixos é crucial para uma retomada mais duradoura. Trata-se de condição que um governo minimamente racional não pode desconhecer.

editoriais@grupofolha.com.br

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