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Risco crescente

Inflação indica fragilidades na economia, que suscita desconfiança das empresas

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O ministro da Economia, Paulo Guedes - Ueslei Marcelino/Reuters

A aceleração da inflação nos últimos meses constitui um alerta claro de que há problemas na economia e de que qualquer deslize do governo poderá levar o país a um quadro de grande dificuldade.

O IPCA-15 subiu 0,94% em outubro, a maior alta para o mês em 25 anos. Pressões nos preços de alimentos, bens duráveis e transportes prevaleceram, mas, pela primeira vez em muitos meses, também houve aceleração em serviços e nas medidas que buscam capturar a tendência estrutural da inflação.

O resultado é um rápido aumento das projeções para 2020, que já superam 3% e nas próximas semanas podem crescer para ainda mais perto da meta de 4% fixada pelo Banco Central para este ano.

Por ora, pode-se considerar que a alta de preços está localizada em alguns setores, não sendo um fenômeno generalizado. É natural, por exemplo, que haja algum repasse da desvalorização do real, que encarece itens importados, para os preços internos. A inflação no atacado, mais sensível à variação cambial, subiu nos últimos meses.

No caso dos alimentos, observa-se um impacto duplo, pois além da perda de valor do real há aumento dos preços em dólar, ocasionado pela demanda chinesa por itens como soja e proteína animal. Com a pandemia, além disso, houve perturbação nas cadeias de produção, com falta temporária de insumos e produtos, o que eleva os preços.

O risco é que essas altas, ainda concentradas e em parte de caráter temporário, se generalizem e afetem as expectativas para 2021. Nesse caso, os tradicionais mecanismos de indexação, hoje um tanto dormentes por causa da recessão e da elevada ociosidade produtiva, poderiam voltar com força.

No limite, o Banco Central talvez se veja na necessidade de subir os juros para evitar estouro das metas de inflação. Caso isso ocorra, a dívida pública, que se aproxima de 100% do Produto Interno Bruto, terá sua rolagem encarecida. Não se mostra implausível que a dificuldade do Tesouro em vender seus títulos no mercado se agrave.

Eis o ciclo clássico da insolvência, que no Brasil resultou no passado em inflação galopante. Para evitar esse cenário catastrófico, sobretudo para os mais pobres que não têm como se proteger no mercado financeiro, é preciso que o governo demonstre que o país não se desviará da rota do ajuste fiscal.

O tempo é curto e o caminho é um só —aprovar no Congresso um Orçamento para 2021 que mantenha a aderência ao teto de gastos e reformas que permitam redução de despesas obrigatórias.

Cabe ao presidente Jair Bolsonaro fazer a escolha. Se insistir nos sinais populistas que emitiu até agora —que levaram a maior parte das empresas a perder a confiança na política econômica— poderá levar o país ao desastre.

editoriais@grupofolha.com.br

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