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Michel Gherman e Rafael Kruchin

25 anos da morte de Yitzhak Rabin

Ex-líder israelense ainda é peça fundamental no conflito com a Palestina

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Michel Gherman

Assessor acadêmico do Instituto Brasil-Israel, professor de história na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos, e pesquisador da Ben Gurion University

Rafael Kruchin

Mestre em sociologia pela USP, é coordenador-executivo do Instituto Brasil-Israel e pesquisador colaborador do Centro de Estudos de Migrações Internacionais da Unicamp (Cemi)

Yitzhak Rabin nasceu em Jerusalém, em 1922, na Palestina sob mandato britânico. Com longa trajetória de vida vinculada às brigadas judaicas e, posteriormente, ao exército do Estado de Israel, fundado em 1948, deixou a farda apenas para entrar na política, ocupando o cargo de deputado e, depois, por duas vezes, de primeiro-ministro do país pelo Partido Trabalhista.

Quando chefiava o governo de Israel pela segunda vez, protagonizou um dos momentos mais importantes de sua vida política. Ao lado do ministro das Relações Exteriores Shimon Peres e do líder da Organização de Libertação da Palestina (OLP) Yasser Arafat, sob mediação do presidente americano Bill Clinton, Rabin assinou os Acordos de Oslo de 1993, em um momento histórico que poderia ter marcado o fim do conflito entre israelenses e palestinos.

Homenagem aos 25 anos da morte do ex-primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, em Tel Aviv - Jack Guez - 29.out.20AFP

Nesse contexto, influenciado pelas mudanças que ocorriam ao seu redor, Rabin deixava de atuar de acordo com o modelo hegemônico em Israel e no sionismo de então. Nele, os palestinos eram vistos como obstáculos à consolidação do Estado judeu. Nesse momento, eles passam a ser considerados portadores de posições e demandas legítimas que deveriam ser escutadas para que fosse garantido o projeto sionista de construção de um Estado judaico e democrático.

No entanto, extremistas de ambos os lados faziam de tudo para impedir que os acordos avançassem. Do lado israelense, cresciam, a cada dia, a violência e as ameaças ao primeiro-ministro. No dia 4 de novembro de 1995, Yigal Amir, um judeu de extrema direita, acabou por cumprir as ameaças e assassinou Yitzhak Rabin durante uma manifestação de celebração da paz na praça dos Reis, em Tel Aviv.

Amir personificava o contexto de polarização da sociedade israelense, no qual se fortaleciam grupos sionistas religiosos que repudiavam o projeto de negociação com os palestinos.

Nesta quarta-feira (3), 25 anos depois, Rabin continua sendo peça simbólica fundamental do tabuleiro político que envolve o conflito entre israelenses e palestinos. Mas não somente. Recentemente, por exemplo, a congressista democrata estadunidense Alexandria Ocasio-Cortez, após pressão de setores de movimentos pró-palestinos, cancelou sua participação em um evento em homenagem a Yitzhak Rabin, organizado por grupos da esquerda sionista.

No debate sobre o conflito, Rabin costuma ser demonizado por grupos à esquerda e à direita. Para os primeiros, ele não poderia representar os ideais do campo progressista, já que Israel é tido apenas como um país imperialista e colonialista. Para os segundos, negociar com os palestinos e entregar porções da Terra Prometida seria uma heresia ou uma afronta ao projeto direitista da Grande Israel.

Assim, a demonização de Rabin revela muito de nossa vida política contemporânea: quem não é exatamente como nós, passa a ser visto como inimigo. No Brasil, por exemplo, as consequências dessas lógica política são nefastas, pois impedem a criação de alianças que possam isolar a extrema direita, ora no poder.

O primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin (esq.), o presidente americano Bill Clinton (centro) e o líder palestino Yasser Arafat durante a assinatura do acordo em Washington, em 1993 - Gary Hershorn - 13.set.1993/Reuters

No contexto israelense, ignorar o universo de diálogo que tornou possível a mudança que retira Rabin dos campos de batalha e o leva à mesa de negociações, aponta para uma extrema direita cada vez mais forte e para caminhos cada vez mais distantes da solução do conflito entre palestinos e israelenses.

Rabin, a despeito de sua controversa trajetória, estava convicto de que políticos que querem produzir transformações efetivas podem e devem mudar de opinião. Por isso confrontou a direita, as posições tradicionais da esquerda israelense e colaborou na construção de um espaço público que tornasse possível o diálogo entre palestinos e israelenses.

Refletir sobre Rabin e sua trajetória parece fundamental em um momento em que democracias estão sendo ameaçadas mundo afora.

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