Descrição de chapéu

A vacina e a pólvora

Ao recair na estupidez, Bolsonaro está no curso certo para ter o final de Trump

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Bolsonaro no Palácio do Planalto - Evaristo Sá/AFP

A terça-feira (10) parece ter sido um momento de epifania verborrágica do presidente Jair Bolsonaro, mesmo considerados os seus padrões dilatados. Mentiu sobre efeitos de uma vacina em desenvolvimento, comemorou a interrupção —já revertida— da pesquisa sobre o imunizante e insultou homossexuais.

A espiral de infâmias apenas tinha início quando o chefe de Estado celebrou, de fato, a morte de uma pessoa —e um empecilho no desenvolvimento de um imunizante que pode salvar milhões de vidas.

Do vulcanismo presidencial continuaram jorrando boçalidades naquela data: “Quando falta saliva, tem que ter pólvora”. Refletia sobre como reagir à hipótese de que o presidente eleito dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, venha a levantar barreiras comerciais adicionais, como retaliação à incúria ambiental do governo federal brasileiro.

Não se tratou, é preciso esclarecer, de alguma ironia ou tirada humorística. O presidente da República Federativa do Brasil cogitou mesmo, com suas próprias palavras, empregar força militar contra a maior potência do planeta.

O que liberou a catadupa iracunda no mandatário brasileiro pode ser matéria apenas de especulação. A queda rumorosa de Donald Trump na eleição americana desponta como uma hipótese, pois ela mostrou o destino ao cadafalso de líderes que, como seu bajulador Bolsonaro, vilipendiam pressupostos da civilização.

A mudança na Casa Branca também prenuncia um tabuleiro geopolítico em que o Brasil, caso seu presidente mantenha o curso de sua gestão ambiental, externa e sanitária, ficará ainda mais isolado.

Se foi esse o gatilho para a enxurrada de destemperança de Jair Bolsonaro, parece então que estamos diante de um daqueles casos nos quais a reação à profecia contribui para que ela seja cumprida.

Pois a estratégia de conformidade aos novos horizontes requereria a atitude oposta do governante brasileiro: prestígio ao desenvolvimento de vacinas eficazes, venham de onde vierem; respeito aos que sofrem pela epidemia; guinada preservacionista na área ambiental; deferência à verdade factual e à ciência; e tolerância aos que não pensam nem se comportam conforme a cartilha dos fanáticos.

A esta altura dispensa comprovação a efetividade das instituições democráticas de reprimir o cesarismo e o barbarismo que compõem a personalidade de Bolsonaro.

A boa nova que vem do norte é haver maiorias dispostas a mandar essas figuras de volta para casa.
Se deseja ter o mesmo destino de Donald Trump, o presidente do Brasil está no caminho certo.

editoriais@grupofolha.com.br

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