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Agruras socialistas

Em baixa, governo português tem sucesso ameaçado por Covid e pressão por gastos

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O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, participa de cerimônia em homenagem às vítimas da Covid-19 - Patricia de Melo Moreira/AFP

Pouco mais de um ano após as eleições que o reconduziram ao cargo, quando desfez o insólito arranjo de siglas de esquerda que com sucesso governou Portugal de 2015 a 2019, o primeiro-ministro António Costa vê-se às voltas com as agruras de um governo de minoria.

Dificuldades para aprovar o Orçamento, críticas à condução do combate à pandemia, perda de popularidade e um inesperado revés eleitoral compõem o cenário turbulento no qual se equilibra o líder do Partido Socialista (PS).

O desafio mais premente concerne ao Orçamento para o ano que vem. Sem contar com maioria no Parlamento, o premiê português vem sendo emparedado tanto à direita como à esquerda.

O Partido Comunista e o Bloco de Esquerda, antigos parceiros de governo, subiram o preço do apoio, exigindo o cumprimento de uma série de compromissos sociais para aprovarem o projeto.

Já a oposição cobra mais recursos para o enfrentamento dos problemas econômicos resultantes da pandemia. Ao todo, foram propostas nada menos que 1.365 modificações à peça governamental.

Tais imposições colocam em xeque a política de disciplina fiscal que os socialistas vêm aplicando nos últimos anos —uma combinação algo heterodoxa de corte de despesas e investimentos públicos com aumento de salários.

A dificuldade no Parlamento faz par com a insatisfação das ruas. Com o recrudescimento da pandemia, o governo adotou uma série de novas restrições que atingiram em cheio o setor de comércio e serviços, impactando sobretudo a cadeia de restaurantes, cujo peso na economia do país é grande.

As medidas não foram bem recebidas por empresários e funcionários, que reclamam, em protestos organizados por todo o país, maior apoio estatal. Isso, somado à explosão de casos de Covid-19, fez a popularidade de Costa recuar 12 pontos nos últimos três meses.

Como se não bastasse, o Partido Socialista acaba de perder o comando da região autônoma dos Açores, que administrou nos últimos 24 anos. A coalização direitista vitoriosa sinaliza um novo arranjo político que pode vir a ameaçar a hegemonia nacional do PS.

Apesar do desgaste acumulado, é improvável que o governo socialista soçobre por ora, perto do pleito presidencial. Entretanto nada garante que, passado o sufrágio de janeiro, suas fragilidades não venham a cobrar um preço mais alto.

editoriais@grupofolha.com.br

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