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Antes da vacina

Otimismo com imunizante não isenta país de combater risco de piora da epidemia

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Laboratório do Butantan, instituto que produz no Brasil uma vacina contra a Covid-19 - Governo do Estado de São Paulo

Em meados de setembro, surgiram indícios de que uma segunda onda da pandemia começava na Europa. De lá para cá, a taxa de mortes diárias por Covid-19 saltou de 0,5 por milhão de habitantes para quase 7 na União Europeia.

O doloroso exemplo europeu e, agora, os indícios de repique do contágio no Brasil suscitam o debate se aqui também haverá segunda onda. Não há, cabe dizer de antemão, definição precisa de tal conceito; no caso brasileiro, nem mesmo chegou a ser obtido o controle da epidemia; ademais, existem problemas na contabilidade oficial.

Considerações à parte, há indícios menos equívocos de que o número de mortes cresce em alguns estados, tanto naqueles em que a taxa de mortes acumuladas é maior, como na região Norte, como menor, a exemplo do Sul.

Evidência preocupante, o número de internações aumentou em diversas cidades, como em São Paulo.

Diante dos dados, o país não pode se entregar à negligência contemplativa e teórica —mesmo com as perspectivas mais otimistas para a chegada de uma vacina.

As autoridades não podem hesitar em caso de necessidade de soar o alerta geral. Neste final de ano, cumpre enfatizar a necessidade do uso de máscaras e reiterar que aglomerações são uma irresponsabilidade pessoal e social.

Adiar medidas para depois do fim das eleições seria o pior exemplo de estelionato eleitoral.
Providência urgente é sanar o fracasso do programa de testes e de procura de focos da doença, bem como rever a desmobilização de hospitais de campanha.

Os governos devem ainda ponderar, a cada dia, se é preciso reestabelecer normas obrigatórias de distanciamento e mesmo de fechamento de atividades que propiciam o espalhamento do vírus. Pesquisa Datafolha revelou que cerca de dois terços dos moradores de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife apoiam tais possibilidades.

Quanto a vacinas, há de fato esperanças cada vez mais fundamentadas. Entretanto os dois imunizantes com eficácia já comprovada não estarão tão cedo à disposição em quantidade relevante para o Brasil, que restringiu seus contratos de compra antecipada aos produtos da Universidade de Oxford-Astra-Zeneca e da Sinovac.

Ainda não foram concluídos os testes decisivos desses imunizantes. Se eles se mostrarem eficazes, ainda terão de ser aprovados pelas autoridades, distribuídos e aplicados em dezenas de milhões de pessoas antes que comecem a fazer efeito no controle da doença.

Trata-se de processo que levará até meados de 2021, ao menos. Até lá, o país terá de combater o risco de piora da epidemia, com mais disciplina do que demonstra hoje.

editoriais@grupofolha.com.br

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