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Joaquim Francisco de Carvalho

Ascensão e queda do mito Bolsonaro

Eleições municipais apontam caminho sombrio para o capitão

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Joaquim Francisco de Carvalho

Mestre em engenharia nuclear e doutor em energia pela USP, foi engenheiro da Cesp, diretor industrial da Nuclen (atual Eletronuclear) e pesquisador associado ao IEE/USP (Instituto de Energia e Ambiente)

A corrupção do PT, o mensalão, a Lava Jato e a incompetência da presidente Dilma Rousseff criaram na sociedade uma forte pulsão contra os partidos de tendências socializantes.

Agastados com tudo isso, os eleitores, principalmente certas elites radicalizadas e alguns militares iludidos —e porque não dizer— saudosos do poder ou de olho em contracheques, queriam ver o país governado por um general linha-dura.

Instintivamente, o capitão Bolsonaro percebeu isso e empunhou logo a bandeira do combate à corrupção. Na falta de um general, ele mesmo, com a triste experiência de 28 anos como deputado no baixo clero, elogiando torturadores e insultando colegas deputadas, vestiu bem esse figurino e ousou candidatar-se –embora tenha sido expulso do Exército como capitão.

Começou então a campanha, e veio a trágica facada em Juiz de Fora, que comoveu o país e o livrou dos debates e da comparação com candidatos mais qualificados. Desse modo, a ascensão bolsonarista ganhou impulso, e o capitão acabou vencendo.

Na época, desconhecia-se a folha corrida do capitão, plena de "rachadinhas"; compras de imóveis com dinheiro vivo por suas ex-mulheres e por seus filhos; e ligações perigosas com milicianos —enfim, tudo que o desqualificava para arvorar o lema do combate à corrupção.

Não era, pois, de se esperar que ele conhecesse figuras dignas de formar um ministério. Nada disso. O que ele conseguiu foi congregar uma caquistocracia, que vai do obtuso Ernesto Araújo ao semiletrado fugitivo Weintraub. Do pastor Milton Ribeiro à ridícula Damares. Do falaz Paulo Guedes, com sua voracidade por negócios com estatais lucrativas e fundos de pensão, ao biltre Ricardo Salles, denunciado por improbidade e enriquecimento ilícito pelo Ministério Público de São Paulo.

O general Mourão, que parecia ser um dos poucos membros sensatos deste governo, decepcionou com suas declarações sobre os incêndios na Amazônia e no Pantanal.

Voltando a Bolsonaro, é patente que ele está desfigurando as instituições para proteger seus filhos corruptos e a si mesmo. Foi para isso que interferiu na Polícia Federal, transferiu o Coaf do Ministério da Justiça para o Banco Central e rompeu com a tradição da lista tríplice e nomeou um procurador-geral da República amestrado, além de ministros igualmente amestrados para o Tribunal de Contas da União e o Supremo Tribunal Federal.

As recentes eleições municipais mostram que os eleitores começam a reagir, e o mito Bolsonaro começa a declinar. Cabe agora ao Congresso cassar o mandato deste celerado, que não tem a mínima condição moral de presidir o país.

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