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Chances com Biden

Até Brasil pode ganhar com democrata, desde que cultive uma diplomacia adulta

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A vice, Kamala Harris, e o presidente eleito dos EUA, Joe Biden - Andrew Harnik/AFP

Com poucas exceções, o mundo recebeu com alívio a vitória de Joe Biden na disputa pela Presidência dos Estados Unidos. As propostas econômicas do democrata são ambiciosas, com foco em gastos sociais financiados por impostos sobre os mais ricos, além de amplo programa de transformação verde.

As chances de implementação, contudo, dependem da definição do comando do Senado, que ocorrerá apenas em janeiro. Se os democratas vencerem as duas cadeiras ainda em disputa na Georgia, o que hoje é tido como pouco provável, o partido terá maioria com o voto de desempate da vice-presidente eleita, Kamala Harris.

A importância dessa estreita maioria para Biden não pode ser subestimada. Seu plano, afinal, prevê gastos que podem chegar a US$ 3,5 trilhões. Além de mais transferências de renda para famílias enquanto durar a pandemia, buscam-se expansão da cobertura de saúde, despesas de infraestrutura e redução das emissões de carbono.

A contrapartida seria maior tributação para famílias com renda acima de US$ 400 mil anuais e reversão dos cortes de impostos promovidos por Trump para as empresas. Caso os republicanos mantenham o controle do Senado, o estímulo provavelmente seria inferior, sem a criação de novos impostos.

Há setores em que o presidente tem maior latitude executiva, porém, como a política externa. Em relação à China, há uma janela para cooperação em temas de interesse comum, como o clima, mesmo considerando o alinhamento entre democratas e republicanos sobre a necessidade de confrontar a potência asiática na área tecnológica.

A redução dos riscos de guerra comercial e financeira entre americanos e chineses pode reforçar a perspectiva de retomada econômica mundial em 2021.

Também existe espaço para entendimento com o Brasil. O interesse dos EUA em manter nosso país em sua órbita para a nova etapa das telecomunicações 5G amplia as possibilidades de negociação de outras pautas.

Na agenda ambiental, por exemplo, há oportunidades. Os americanos podem se alinhar à demanda brasileira para a criação de um mercado livre de carbono que permita ao país receber pagamento pela preservação da Amazônia.

Para tanto, contudo, é preciso cultivar uma relação diplomática adulta. A atitude insensata de Bolsonaro —que replica aqui a birra antidemocrática do derrotado Donald Trump e não reconhece a vitória de Biden— atenta contra o interesse nacional e pode levar o país a um crescente isolamento.

editoriais@grupofolha.com.br

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