Nós temos um amor muito especial na Alemanha. Uma relação com seres que existiam muito antes do povo alemão. No ano de 1713, quando o número desses seres diminuiu bastante, um nobre da Alemanha, Hans Carl von Carlowitz, advertiu no seu livro “Sylvicultura oeconomica” sobre o perigo para a sociedade quando ela usa para benefício próprio mais desses seres do que a natureza pode reproduzir, criando assim o termo “sustentabilidade”. Essas ideias foram se ancorando na alma do povo alemão, no romantismo, juntando-se com ideias pagãs: antes do cristianismo, as tribos da Alemanha consideravam esses seres como santos, representando forças divinas na terra.
Imagino que os prezados leitores já perceberam do que estou falando: das árvores, da floresta. Hans Carl von Carlowitz exigiu que, para cada árvore derrubada, uma nova fosse plantada. Ele fez isso não somente pelo amor à natureza, mas também pelo interesse econômico: a floresta, uma vez desmatada, não pode ser utilizada economicamente. Desde o início do século 19, este pensamento encontra aceitação geral. A área de florestas na Alemanha cresceu continuamente e está crescendo ainda mais.
Todos os governos da Alemanha, de Helmut Kohl, de Gerhard Schröder e de Angela Merkel, cooperaram com os diferentes governos do Brasil para a proteção das florestas no país, seja na Amazônia, na mata atlântica ou no cerrado. Não por romantismo, mas para preservar um patrimônio que tem um valor incalculável: nesses biomas, podemos encontrar soluções naturais para doenças até agora incuráveis, além do uso sustentável da madeira e dos produtos da região.
A Alemanha, no total, investiu mais de R$ 3 bilhões na cooperação com o Brasil para a proteção das florestas brasileiras, incluindo também a demarcação das terras e a proteção dos povos indígenas. Com experiência de três décadas de cooperação com o Brasil, conhecemos a Amazônia e a complexidade da região muito bem.
Na cooperação, sempre nos baseamos na ciência. Brasil e Alemanha estão cooperando em um projeto internacional da pesquisa na Amazônia, a torre ATTO ("Amazon Tall Tower Observatory"), mais alta do que a torre Eiffel. Sabemos que a mudança climática está acelerando. Sabemos que os dados do desmatamento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) e outras instituições mostram uma mensagem clara: o desmatamento avança, e está avançando a um passo acelerado.
E essa tendência nós temos que reverter juntos. A Alemanha, assim como outros países, está disposta a compartilhar as suas experiências. Aceitamos o convite do senhor vice-presidente, Hamilton Mourão, para uma viagem na região exatamente para continuar o diálogo nesse sentido. E deste diálogo esperamos um resultado concreto: ações concretas para reduzir o desmatamento do maior bioma do mundo.
O continente inteiro precisa da floresta amazônica para garantir o abastecimento com água dos rios voadores. Sem água, não haverá agroindústria, nem na Amazônia nem em Mato Grosso do Sul. E, também, para o benefício do clima mundial. E digo a quem não acredita nisso: que o faça então pela beleza da natureza, pelo canto das araras, pelos rios cristalinos cheios de peixes e por uma vida saudável dos ribeirinhos. Pelo amor ao povo brasileiro.
TENDÊNCIAS / DEBATES
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