Descrição de chapéu

Os centros se movem

Negociações envolvendo Doria, Huck e Moro são naturais, mas limites são óbvios

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O governador de São Paulo, João Doria, e o ex-ministro Sergio Moro, em 2019 - Eduardo Knapp - 28.jun.19/Folhapress

Definir o centro político é tarefa ingrata e sujeita a subjetivismos, ainda mais no Brasil de fragmentação partidária e lideranças voláteis, onde o presidente Jair Bolsonaro ocupou a direita e abocanhou também franjas extremistas.

Se o campo da esquerda parece hoje mais ou menos definido, o centro pode abarcar atores que, a depender do ponto de vista, seriam classificados como centro-direita ou mesmo direita.

Nomenclatura à parte, nomes desse estrato estão em pleno movimento, cientes do risco de serem engolidos de novo por uma polarização entre o presidente e algum representante à esquerda em 2022.

Como a Folha noticiou, ao menos três expoentes do grupo conversam sobre como chegar a 2021 com algum tipo de coesão antes da disputa presidencial.

O mais denso desses postulantes, do ponto de vista político tradicional, é o governador paulista João Doria (PSDB), comandante da maior máquina estadual e à frente de uma cruzada contra a pandemia.

Ele já vinha conversando com o apresentador de televisão Luciano Huck e, em setembro, recebeu em casa Sergio Moro. No mês seguinte, foi a vez do ex-ministro da Justiça ser anfitrião de Huck.

Os encontros causaram óbvia reação, em especial pela presença como pivô de Moro, um personagem polêmico por sua associação passada ao governo Bolsonaro.

Não só isso. Um partido central para qualquer costura do gênero, o DEM, se viu alijado e nutre especial ojeriza a Moro por sua agenda anticorrupção quando se destacava na Operação Lava Jato como juiz.

Assim, não deixa de ser pitoresco vê-lo acusado de ser um representante da extrema direita por Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente da Câmara que não é exatamente um esquerdista empedernido.

Maia, por sua vez, disse que o DEM prefere Huck a Doria, uma provocação que reflete parte do que sua sigla defende, mas que também visa aumentar o preço em negociações vindouras com o tucano.

O tiroteio veio também da esquerda, que pelo desempenho pouco empolgante no pleito deste ano até aqui tem motivos para se preocupar. Já o chamado centrão fisiológico, o PSD e o MDB, fiéis usuais de balanças nesses arranjos, por ora só observam o jogo.

Ainda que as conversas remontem ao começo do ano, a eleição de Joe Biden à Casa Branca despertou um senso de urgência acerca da necessidade de algum tipo de união contra Bolsonaro e a esquerda. O democrata, afinal, só chegou lá ao galvanizar seu partido. A missão é bem mais difícil por aqui.

editoriais@grupofolha.com.br

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