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Política em colapso

Peru derruba 2º presidente desde 2018, e antecessores são acusados de corrupção

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Protesto em Lima contra a deposição do presidente Martín Vizcarra - Ernesto Benavides/AFP

Como se não enfrentasse problemas suficientes com a pandemia de Covid-19, que lá produz a maior taxa de mortes do mundo, o Peru mergulhou em um nova turbulência política com a destituição do presidente Martín Vizcarra.

Na segunda (9), o Congresso decidiu afastar o mandatário com base em controverso artigo da Constituição que trata da “incapacidade moral” para exercer o cargo.

A remoção de Vizcarra, a cinco meses da eleição presidencial, assentou-se na acusação de que ele orientou subordinados a mentir a respeito de supostos pagamentos superfaturados a um músico local por serviços prestados ao governo.

Pesa contra ele, ademais, a suspeita de ter recebido subornos de construtoras durante o período em que era governador, de 2013 a 2014.

Com sua saída, assume o poder o líder do Congresso, Manuel Merino, nada menos que o terceiro presidente desde o pleito de 2016 —origem da atual crise peruana.

Vizcarra ascendeu à Presidência em março de 2018, substituindo Pedro Pablo Kuczynski, que renunciou em meio a um escândalo de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht.

Sem uma base parlamentar sólida, o novo mandatário lançou-se numa cruzada reformista, prometendo limpar o sistema político do país —mensagem que soou bem aos ouvidos de uma população exausta dos escândalos que enredaram políticos, juízes e empresários nos últimos anos.

Basta dizer, a esse respeito, que praticamente todos os chefes do Executivo nas últimas três décadas terminaram sendo investigados ou processados por corrupção.

As investidas de Vizcarra azedaram a relação com o Legislativo e, após uma crise institucional, ele dissolveu o Congresso, convocando novas eleições. O novo Parlamento, porém, mostrou-se ainda mais fragmentado e conflituoso.

Acrescenta complexidade a esse cenário o fato de que Vizcarra, um dos presidentes mais populares das últimas décadas, terminou destituído apenas com base em suspeitas, e com quase 80% da população defendendo que ele continuasse no cargo enquanto prosseguissem as investigações.

Não surpreende que protestos contra a sua saída tenham eclodido em Lima e outras cidades.

Nesse cenário volátil e inflamável, espera-se que o novo presidente não se valha de pretextos para adiar a eleição de abril do ano que vem —e que esse pleito logre produzir a estabilidade institucional de que o país tanto necessita.

editoriais@grupofolha.com.br

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