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Alex Allard

Quero dar um parque para São Paulo

Infelizmente, poucos interesses contrariados conseguiram embargá-lo

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Alex Allard

Empreendedor francês e proprietário do Groupe Allard

O trânsito da cidade de São Paulo matou 791 pessoas em 2019. Deste total, a imensa maioria foram os sempre vulneráveis pedestres (359) e ciclistas (297). Isso não pode ser considerado normal nem aceitável em lugar nenhum do mundo. Os números de Nova York, considerados altíssimos, não chegam a um quarto disso. Em Paris foram 34 mortos por atropelamento em 2019.

No início de novembro, as estatísticas de São Paulo ganharam mais um rosto. A cicloativista Marina Kohler Harkot, 28, morreu atropelada enquanto pedalava. Não podemos tolerar mais isso, não podemos tolerar mais a lógica de que os carros têm prioridade sobre a vida das pessoas. Acredito em cidades mais humanas, mais abertas às pessoas e à convivência. E é por isso que tento, há pelos menos dois anos, doar um parque para a cidade de São Paulo, em plena avenida Paulista.

O empresário Alex Allard, proprietário do Groupe Allard - Marcus Leoni - 21.jun.17/Folhapress

Eu sei que um parque sozinho não vai mudar a cidade, mas pode ser um embrião para que todos possam começar a pensar em mudanças. O projeto do Parque das Flores tem 10 mil m2 de área verde, 500 árvores de espécies da mata atlântica, espaço cultural, área de descanso e convívio. Tudo isso completamente aberto, sem grades, nem muros. Um espaço para a coexistência, para a tolerância, para a diversidade.

Para existir, o parque fará com que o trânsito de carros em um trecho de 100 metros da rua São Carlos do Pinhal desvie para uma passagem subterrânea, eliminando dois semáforos. Desta forma, os carros vão para baixo da rua e os pedestres ficam por cima, seguros e em área verde. Ganham os carros, que terão o trânsito mais livre, e os pedestres.

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Obras do mega empreendimento Cidade Matarazzo, que está sendo construído em uma área de 27 mil metros quadrados, entre a rua São Carlos do Pinhal, alameda Rio Claro e rua Itapeva - Gabriel Cabral - 14.dez.2019/Folhapress

Infelizmente, poucos interesses contrariados conseguiram embargar o parque. Há 11 meses está tudo parado. Alegam que o Parque das Flores beneficiaria exclusivamente um empreendimento privado que eu construí, o Cidade Matarazzo. Essa visão é tão limitada quanto errada. O Cidade Matarazzo não depende do parque. Suas obras estão na fase final, todas as licenças foram emitidas e ele será inaugurado no ano que vem, com ou sem o parque.

Todas as contrapartidas do Cidade Matarazzo foram acertadas com a prefeitura. Elas somam aproximadamente R$ 8 milhões. O investimento no parque não tem nenhuma relação com isso. É uma doação de R$ 130 milhões que inclui as obras e a manutenção do espaço por 30 anos. No contrato está claro que não haverá nenhum gasto para os cofres públicos nem possibilidade de exploração comercial.

Meu desejo é mudar a lógica urbanística que prevaleceu nas últimas décadas em São Paulo. Aqui, empreendimentos de alto padrão se valorizam ao se isolar. Erguem muros e grades e tentam separar cada vez mais as pessoas por classes sociais.

Nós estamos fazendo o contrário: deixando tudo aberto e construindo um parque para que as pessoas sintam-se à vontade para circular pelos restaurantes, centro cultural, hotel, praça e por onde quiserem.

A diversidade brasileira é o que me encanta e onde vejo o maior valor deste país. Diversidade de pensamento, ambiental, cultural. Tudo aqui pode conviver bem, só precisamos ajudar a juntar todos. Eu quero dar um parque para São Paulo e preciso da ajuda de quem também quer o parque para tirá-lo do papel.

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