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Remediar o estrago

Governo enfim se mexe para campanha e plano de vacinação, mas Bolsonaro é risco

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O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o presidente Jair Bolsonaro - Jair Bolsonaro/Facebook

Se nada mais sair errado, na próxima semana o governo dará dois passos para começar a desfazer o estrago perpetrado por Jair Bolsonaro na imagem pública da vacinação contra a Covid-19. Um surto atrasado de realismo e responsabilidade; antes tarde do que nunca.

Espera-se nos próximos dias o planejamento de imunização do Ministério da Saúde, como noticiou o jornal O Globo. Poucos detalhes vieram a lume, além de que se seguirão as bases do Plano Nacional de Imunização, o bem-sucedido braço do Sistema Único de Saúde.

Quanto mais cedo o plano fosse apresentado, mais profundo seria o exame por especialistas e melhor a chance de ser aperfeiçoado e conquistar apoio da sociedade. O ministro Eduardo Pazuello, porém, parecia hesitar diante desse óbvio e urgente movimento.

O presidente da República, afinal, fez de tudo para semear descrédito na imunização. Movido pelo temor de que a Coronavac rendesse crédito eleitoral ao adversário João Doria (PSDB), governador de São Paulo, Bolsonaro lança suspeita sobre todas as vacinas.

A procrastinação no Planalto levou o Supremo Tribunal Federal a marcar para 4 de dezembro julgamento de ações de partidos de oposição que pedem detalhes do planejamento para vacinação.

Antes disso, a Advocacia-Geral da União agiu para barrar informações sobre tal plano solicitadas pelo Tribunal de Contas da União —em agosto.

O segundo passo tardio na direção correta foi prometido pelo ministério também para a primeira semana de dezembro: campanha de conscientização sobre eficácia e segurança das vacinas contra a Covid-19, quando forem autorizadas pela Anvisa.

Em boa hora, porque a confiança da população nelas vem caindo, como constatou pesquisa Datafolha em quatro capitais.

Ambos os movimentos ainda podem ser revertidos, decerto, se houver nova recaída presidencial na desrazão. Seria ingênuo desconsiderar a truculência de Bolsonaro com subalternos quando estes tomam decisões técnicas e criteriosas —basta lembrar a defenestração de dois titulares da pasta.

Sob gestão de Pazuello, general com fama de especialista em logística, o ministério se curvou aos caprichos do chefe e, pior, mostrou pífio desempenho na coordenação de outros órgãos.

Milhões de testes diagnósticos pegam poeira em armazéns, enquanto se anuncia nova alta da epidemia, e o governo federal nem mesmo consegue despender as verbas extraordinárias alocadas para combater o coronavírus.

Não espanta que, de atraso em atraso, avancem as mortes.

editoriais@grupofolha.com.br

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