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A corrida da vacina

Bolsonaro tem de despolitizar imunizante, que só precisa ser eficaz e seguro

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O governador de São Paulo, João Doria, posa com amostra da Coronavac - Nelson Almeida/AFP

A disputa política em torno da vacina contra a Covid-19, que antagoniza o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vai mostrando lances cada vez mais explícitos.

Na segunda-feira (7), o tucano apresentou um plano com datas e números para a inoculação da Coronavac, o imunizante chinês que será formulado e, depois, produzido no Instituto Butantan.

Enquanto isso, no Palácio do Planalto, o presidente conclamava uma claque para prestigiar a exposição do terno que usou em sua posse, assim como o vestido da primeira-dama na ocasião.

Seria apenas patético, digno de um ditador personalista da Ásia Central, não fosse o fato de que no mesmo dia estivesse o Brasil com a maior média móvel de óbitos por Covid-19 desde outubro.

O contraste na abordagem da pandemia ocorre desde os seus primórdios, quando a doença era chamada de “gripezinha” por Bolsonaro —que agora parece atentar-se para as possíveis consequências eleitorais de seu desdém.

O presidente vê Doria como um adversário perigoso em 2022. O governador tucano, por sua vez, não esconde sua pretensão presidencial. Em entrevista à Folha, nomeou o combate à pandemia como um ativo eleitoral óbvio.

Se tal politização, de lado a lado, é incontornável, resta esperar que ela sirva para trazer mais transparência e celeridade ao processo de encontrar um imunizante seguro e eficaz para a população.

Mesmo que tenha adicionado teatralidade desnecessária ao anúncio de seu plano, Doria dificilmente pode ser criticado por ter apresentado uma escala de imunização e providências logísticas. Se a vacina se mostrar ineficaz, não terá sido aquele o problema.

Até aqui, Bolsonaro jogou contra, com seu intendente à frente da Saúde postergando decisões.
Eduardo Pazuello, em encontro com governadores nesta terça, fugiu de responder por que o imunizante chinês não recebeu anúncio ou aceno de investimento federal apesar de estar no mesmo estado regulatório brasileiro dos dois que receberam (AstraZeneca e Pfizer).

Ainda arvorou-se a chefe da Anvisa, o que não é e onde já está instalado um presidente bolsonarista, discorrendo sobre prazos dilatados para aprovação de vacinas.

Espera-se agora uma análise técnica e rápida, como a emergência cobra, se o imunizante for eficaz.
Há alguns sinais positivos, contudo. Sob a pressão, o governo federal mudou o tom —admitiu comprar mais vacinas da Pfizer e chamou governadores para conversar.

Por fim, Bolsonaro se dignou a prometer imunizante para todos. Que cesse já a politização da vacina, que só tem de ser eficaz e segura.

editoriais@grupofolha.com.br

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