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Henri Zylberstajn

Doação: muito além do dinheiro

Recompensa é muito maior do que a gratidão de quem a recebe

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Henri Zylberstajn

Presidente da Sold Leilões, é fundador do Instituto Serendipidade e da Escola de Impacto

Nos últimos meses, a cultura de doação no Brasil ganhou novos adeptos numa velocidade nunca antes vista. A pandemia despertou em pessoas e empresas um novo sentimento de solidariedade, fazendo com que a arrecadação de recursos para este fim batesse sucessivos recordes.

Segundo a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), de março a outubro de 2020, mais de R$ 6,4 bilhões foram doados para iniciativas ligadas ao combate à Covid-19 por mais de 543 mil pessoas físicas e jurídicas. Estima-se que 90% deste valor tenha vindo de empresas —o que representa o dobro do montante doado por corporações em todo o ano de 2018, de acordo com o censo do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife).

Henri Zylberstajn é CEO da SOLD Leilões, fundador do Instituto Serendipidade e da Escola de Impacto
O presidente da SOLD Leilões, Henri Zylberstajn - Divulgação


A maioria desta quantia foi destinada a ações assistenciais que forneceram alimentos, itens de higiene e limpeza, medicamentos e assistência de saúde para pessoas em situação de vulnerabilidade - garantindo a milhões de brasileiros um mínimo de dignidade e possibilidade de sobrevivência.

Considerando-se a falta de incentivos fiscais e o histórico de baixo engajamento em campanhas deste tipo no Brasil, o resultado é surpreendente e pode indicar uma tendência de mudança de comportamento. Entretanto, a despeito das vultosas e inéditas cifras, não são só de dinheiro e bens que as doações podem ser compostas —nem tampouco apenas em ocasiões emergenciais. Doar atenção, tempo, conhecimento, órgãos, sangue e até carinho são possibilidades, em qualquer momento, tão nobres quanto e que ampliam este conceito ainda incipiente em nosso país.

Doar não é apenas um ato de solidariedade: é um exercício de empatia. Toda doação deve começar pela observação das várias formas de se viver e encarar o mundo. Reconhecer e aceitar a pluralidade da existência humana em todas as suas nuances, para então colocar-se no lugar do outro, transforma o ato de doar num processo de engrandecimento e evolução pessoal.


Muitos ainda o fazem por obrigação ou pena e apenas em situações extremas –o que apesar de não tirar o mérito da atitude, desperdiça a incrível chance de olhar para o próximo com maior frequência e numa outra direção: de lado a lado, ao invés de cima para baixo, gerando uma oportunidade real de troca e aprendizados. Abstrair-se do plano material, colocar-se numa posição de igualdade e abrir-se a conhecer diferentes realidades, possibilita a criação de novos imaginários de cidadania, aumentando o nosso senso de pertencimento. Numa sociedade materialista como a que vivemos, engajar-se na cultura de doação pode ser, para muitos, o início da mudança necessária na busca por um propósito de vida maior.

Para as empresas, este engajamento muito em breve deixará de ser encarado como obrigação e passará a ser visto como solução, por estar intimamente ligado à cultura ESG (de responsabilidade e impacto socioambiental). Segundo Dalai Lama, é ilusão discutir sustentabilidade sem reconhecer a interdependência entre os seres humanos. E, de acordo com a abordagem sugerida neste texto, doar não apenas cria conexões, mas oferece maneiras de entender e se aprofundar nas relações entre pessoas de diferentes origens, condições e contextos.


Independentemente se feita por um CPF ou por um CNPJ, a recompensa a quem doa é muito maior do que a gratidão de quem a recebe. Quando nos dermos conta disto, novos recordes de adeptos serão batidos. Tomara que a pandemia deixe como legado o aumento de doadores e, com ele, novas formas e ocasiões de encararmos a cultura de doação.

Esta terça-feira, 1º de dezembro, é o “Dia de Doar”. Você já experimentou?

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