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Mais uma farsa

Com pleito sem oposicionistas e interesse popular, Maduro retoma Assembleia

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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro - Yuri Cortez/AFP

Se havia ainda algum resquício de democracia na Venezuela, foi enterrado no domingo (6). Para a surpresa de ninguém, o regime do ditador Nicolás Maduro retomou o controle da Assembleia Nacional numa votação que pode ser qualificada de muitas maneiras, mas não de limpa, livre e justa.

O simulacro eleitoral promovido por Maduro e seus sequazes não contou com os principais partidos da oposição —que ou foram retirados da disputa ou desistiram de participar ante as irregularidades dos pleitos anteriores. A presença de observadores internacionais terminou reduzida a um punhado de simpatizantes do chavismo.

Soma-se a isso o fato de que a eleição foi convocada por um Conselho Nacional Eleitoral (CNE) escolhido de modo irregular, sem a chancela do Parlamento, como determina a Constituição, e apenas com membros vinculados à ditadura.

Não surpreende, pois, o desinteresse da população no pleito. Malgrado os esforços do regime, que distribuiu porções extras de comida para aqueles que foram votar, somente 31% dos eleitores compareceram às urnas, segundo o CNE.

Trata-se da última de uma série de manobras capitaneadas por Maduro com o objetivo de anular a contundente vitória oposicionista na eleição legislativa de 2015, último sufrágio venezuelano que pode ser considerado justo.

Desde então, as decisões do Parlamento passaram a ser invalidadas pela Justiça, sob domínio chavista. Num passo seguinte, o regime elegeu em 2017 um Congresso paralelo, que usurpou as funções da Assembleia Nacional.

Com os desmandos institucionais, intensificou-se a perseguição de lideranças da oposição. O novo avanço deve marcar o ocaso de um já débil Juan Guaidó, o deputado oposicionista que em 2019 se autoproclamou presidente interino.

Embora tenha conquistado o reconhecimento de mais de 50 países, Guaidó, uma vez fora do Legislativo, inevitavelmente perderá força para enfrentar o regime.

Não se vê, assim, um horizonte claro para o esgotamento do autoritarismo na Venezuela —que sobrevive a uma tragédia econômica e social que submete toda uma população a privações humilhantes ou à fuga desesperada para o exílio.

editoriais@grupofolha.com.br

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