Num ano coalhado de más notícias para o Brasil na seara ambiental, representa sem dúvida algum alento a apreensão recorde de madeira nativa desfechada nesta semana pela Polícia Federal.
Resultado da operação Handroanthus GLO, a ação da PF reteve impressionantes 131,1 mil metros cúbicos de madeira na divisa do Pará com o Amazonas. As mais de 43 mil toras encontravam-se dispersas ao longo dos rios Mamuru e Arapiuns, uma região de cerca de 20 mil km², área comparável à do estado de Sergipe.
Trata-se da maior apreensão do tipo em solo nacional. O recorde anterior se dera em 2010, quando foram apresados cerca de 65 mil m³ na Reserva Extrativista Renascer, também no oeste do Pará.
O volume agora apreendido, entretanto, pode ser ainda maior. O cálculo, preliminar, é considerado conservador pela Polícia Federal, e uma perícia mais acurada deve ocorrer com o apoio do Exército.
Destacam-se na operação, que se desenrolou ao longo de mais de um mês, as ações de inteligência e o emprego de meios tecnológicos. A PF chegou ao local a partir da análise de imagens de satélite de alta resolução e de incursões na floresta com helicópteros, para filtrar os pontos de maior interesse.
Embora a região conte com uma miríade de planos de manejo autorizados pela Secretaria de Meio Ambiente do Pará, que permitem a exploração legal da madeira, não houve até agora quem reclamasse a carga ou apresentasse documentos que comprovem sua legitimidade —um indício forte, segundo a PF, da origem ilícita.
Assim, se não houvessem sido apreendidas, as milhares de toras provavelmente terminariam “esquentadas” no mercado de madeira ilegal cujos tentáculos vêm sendo revelados por outra operação, batizada de Arquimedes, em curso na Amazônia.
As perquirições da Polícia Federal e do Ministério Público descobriram um vasto esquema de extração e transporte ilícito de madeira envolvendo agentes públicos, empresários e laranjas. Ao todo, 63 empresas são investigadas.
São iniciativas elogiáveis, que felizmente persistem em meio ao cenário de afrouxamento da fiscalização ambiental promovido pelo governo Jair Bolsonaro.
A reparação de tamanho estrago depende de sinais fortes por parte da administração. Um primeiro passo deveria ser a demissão do antiministro da área, Ricardo Salles.
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