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Nas mãos de Deus

Prisão de Crivella, com espalhafato questionável, marca fim de mandato funesto

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O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), após ter sido detido - Pilar Olivares/Reuters

É difícil distinguir nuances em meio ao caos político e administrativo do Rio de Janeiro, que engolfa o governo do estado, principalmente, mas também o da capital.

Nesse sentido, a prisão do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), decretada na terça-feira (22), evoca naturalmente a sequência de encarceramentos dos ex-governadores Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão, Moreira Franco, Anthony e Rosinha Garotinho.

Mais recentemente, em agosto, Wilson Witzel, eleito para o governo fluminense em 2018, foi afastado do posto por 180 dias pelo Superior Tribunal de Justiça sob acusação de envolvimento em corrupção na área da saúde pública.

A exemplo de Witzel, Crivella conquistou o cargo em um momento de protesto do eleitorado. Sem base parlamentar sólida, foi alvo de cinco processos de impeachment. Neste ano, fracassou na disputa pela reeleição, derrotado com folga pelo antecessor, Eduardo Paes (DEM).

Agora, a poucos dias do final de um mandato desastroso, o alcaide se vê denunciado pelo Ministério Público —teria chefiado um esquema de cobrança de propina na prefeitura carioca, que incluiria ao menos outras 25 pessoas.

Conforme delação premiada, o grupo obtinha dinheiro de empresários que buscavam vantagens na administração, como em licitações. Crivella nega as acusações.

Cumpre dizer que as motivações da prisão preventiva, autorizada pela desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, do Tribunal de Justiça do Rio, não parecem convincentes —não se observam no caso riscos como os de fuga, obstrução da investigação ou continuidade da prática criminosa.

No mesmo dia, com efeito, o presidente do STJ, ministro Humberto Martins, revogou a medida e determinou a prisão domiciliar.

Por notáveis que tenham sido os avanços recentes do país no combate à corrupção, passa da hora de aprender que abusos e espalhafatos apenas comprometem a credibilidade das operações policiais.

Vai se constatando também, espera-se, o vazio do discurso de lideranças que exploraram de maneira oportunista a justa indignação popular com os sucessivos escândalos dos últimos anos.

Aqui o exemplo principal é o próprio presidente Jair Bolsonaro, que se empenhou no apoio à reeleição de Crivella —seu aliado na promoção de um moralismo tacanho de fundo religioso e reacionário.

editoriais@grupofolha.com.br

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