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Natal recolhido

Governo paulista restringe atividades nas festas, mas interpõe 4 dias de risco

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Comércio na rua 25 de Março, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 2.dez.20/Folhapress

À primeira vista se afigura acertada a decisão do governo paulista de restringir atividades no período festivo deste final de ano no Brasil da Covid-19. Todo o estado salta direto da fase amarela para a vermelha no feriado e no fim de semana do Natal (25 a 27), com repetição no Ano Novo (1º a 3 de janeiro).

Nesse estágio, mais restritivo, admite-se a abertura só de setores essenciais, como serviços de saúde, postos de combustível e supermercados. Presidente Prudente é a única região do estado a entrar na fase vermelha de pronto, porque na cidade a ocupação de UTIs já marca alarmantes 83%.

Em quatro semanas, subiram 54% os casos e 34% as mortes em São Paulo. O nível de isolamento social para impedir o contágio caiu para 40%, quando o ideal seria 50%. Chamar a alta de segunda onda ou de repique da epidemia resvala para a inocuidade semântica; importa, isso sim, reconhecer o agravamento da situação.

Tal é o sentido geral da medida de recolhimento pela administração João Doria (PSDB), redobrar a precaução. Não fica de todo claro, contudo, por que o intervalo de quatro dias com volta à fase amarela —não haveria risco de incentivar nesse período justamente as aglomerações que se busca evitar?

A restrição de atividades econômicas não impede festividades com dezenas de pessoas em residências. E as que tinham planos de comemorar em algum desses dias, em bares ou restaurantes ora interditados, poderão tentar fazê-lo no interregno amarelo.

A população já se mostra em boa medida refratária a manter medidas de prevenção. Até diante da perspectiva de vacinas recrudesce o ceticismo, como revelou pesquisa Datafolha: despencou de 89% para 73% a parcela de brasileiros dispostos a imunizar-se.

Recomenda-se pecar pelo exagero quando uma situação ameaça sair do controle, tanto mais quando não se pode contar com coordenação do governo federal. O mesmo vale para a incerteza adicional imposta por linhagem mutante do coronavírus que parece ser 70% mais transmissível.

A nova variedade do Sars-CoV-2 ocasionou retorno de um trancamento rígido no Reino Unido, e mais de 40 países baniram viajantes provenientes de aeroportos britânicos. Não está na lista o Brasil de Jair Bolsonaro, que mais uma vez escolhe errar pela trilha da leniência e do negacionismo.

Exigir testes antes do embarque não elimina por completo o perigo de aportar aqui uma pessoa infectada com a variante mais transmissível. O ocupante do Planalto, de novo como sempre, não tem pejo de arriscar a vida dos outros para alimentar a propaganda enganosa de que a Covid-19 está no fim.

editoriais@grupofolha.com.br

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