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Arthur Lira

Novo presidente da Câmara não pode confundir independência com isolamento

Instituições não aguentarão 2 anos de sabotagem ao presidente da República

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Arthur Lira

Presidente da Câmara dos Deputados (PP-AL)

O debate político tem tratado da sucessão das presidências do Legislativo. Como líder de um partido de expressão, o PP, posso contribuir com um perfil que reúne os atributos para conduzir a Câmara dos Deputados no próximo biênio.

O próximo presidente não pode ser nem líder do governo nem líder da oposição. Tem de ser líder da Câmara! Uma Câmara independente, sim, mas também em harmonia. Não é o que diz a Constituição? Harmonia não significa abrir mão da independência. Nem o inverso.

Não podemos nos dar ao luxo de ter a pauta-bomba que destrói ou a pauta-bomba de nêutrons, que destrói sem parecer que destrói. Aquela que não vota nada e destrói o país porque nada é decidido. A política não pode ser um problema para a economia nem para o Brasil. Tem de ser parte da solução, acima das diferenças.

As instituições não vão aguentar dois anos de “quanto pior melhor”, com um presidente de Câmara sabotando o presidente da República. É preciso colocar em perspectiva, nesse ambiente de radicalismos e radicalizações, que não sabotar não significa apoiar incondicionalmente. Nós temos que criar condições mínimas de governabilidade para que, seja quem for o próximo presidente da República, receba o país em condições de governar.

Erra quem imagina que inviabilizar ou asfixiar o atual governo, do ponto de vista fiscal, vai deixar espaço para a sobrevivência do sistema democrático como um todo. A democracia já estava em vertigem em 2016, no impeachment da presidenta Dilma, depois com o Estado policial, a criminalização da política, a prisão de Lula, as duas tentativas de derrubar Temer e a eleição frenética de 2018. Se a democracia sofrer uma nova alucinação, ela sai da vertigem para o tombo.

Na terra arrasada, não haverá vencedores dentro da democracia. A disputa política, a crítica, o combate tem de ser feito com toda a amplitude. Assegurar amplo espaço para a paridade no bom combate institucional é dever do presidente da Câmara. Um mínimo de agenda em termos de reformas do Estado e temas que impactam a realidade fiscal tem de ser encarados. Cada partido deve se posicionar. Não podemos adiar essa pauta.

Claro que tenho uma posição em relação à condução da política condicionada pela visão que eu e meu partido temos de nosso papel político. Foi por isso que apoiamos, demos suporte e verdadeiramente incentivamos e idealizamos a candidatura do então deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para que desse, àquela altura, um audacioso passo e se lançasse candidato ao cargo.

O presidente Rodrigo vinha como contraponto a um momento de esgarçamento das relações entre a presidência da Casa e a Presidência da República, com resultados desastrosos para o país. Entendíamos que o Brasil, como agora, não poderia estabelecer como regra um cabo de guerra entre o “01” na linha de sucessão e o “03”, o presidente da Câmara.

Faço parte da tendência política que tem história de sensibilidade com os desafios de governos, acima das diferenças ideológicas. Ao contrário de outros partidos, que fizeram oposição sem tréguas a governos, sobretudo os de esquerda, apoiamos as últimas administrações do país. Isso está muito além dos carimbos rasteiros que a política usa para reduzir de maneira depreciativa essa forma de encarar o exercício da vida pública.

Essa grande questão é bem mais complexa que críticas pontuais naturais da política. A cada quatro anos, o eleitor pode mudar de opinião sobre quem é mais ou menos preparado para enfrentar os problemas do Brasil, mas os problemas do Brasil não mudam a cada quatro anos. São problemas estruturais e que precisam ser solucionados com empenho e esforço contínuo de diversos governos.

Grandes problemas nacionais são transversais no tempo e não podem nem serão resolvidos num passe de mágica. É nosso dever dar apoio contínuo a temas centrais, independentemente da escolha do eleitor para enfrentar os problemas a cada ciclo eleitoral.

A harmonia é tão necessária neste momento de turbulência na economia, brasileira e mundial. Sem prejuízo de um milímetro da independência. O novo presidente não pode confundir independência com isolamento. A Coreia do Norte não é só independente. É isolada: há um ditador, e o diálogo é disparar ou não o arsenal nuclear. O presidente da Câmara não pode ser uma espécie de Kim Jong-Un. Independência não é isso.

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