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Isaac Sidney

Precisamos de um caminho sustentável

Em 2021, é hora de assumirmos as responsabilidades; todos as temos

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Isaac Sidney

Presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos)

O ano de 2020 ficará como daqueles raros anos cujo legado e sofrimento irão se perpetuar para além do calendário. Em meio à grande apreensão que se abateu sobre o mundo, descobrimo-nos capazes de inéditas manifestações de solidariedade e resiliência enquanto choramos a perda de amigos e familiares.

A despeito do cenário adverso e doloroso, atravessamos 2020 em condições melhores do que as previstas, mas ainda estamos distantes de recuperar as perdas impostas pela pandemia de Covid-19.
Serão necessárias toda a determinação que possamos mobilizar, todas as ações concretas que devamos empreender, toda restrição possível da retórica que nos separa e todo esforço capaz de promover a convergência das ideias.

O presidente da Febraban, Isaac Sidney - Alan Marques - 5.jul.16/Folhapress

O balanço deste ano é rico em aprendizados. A humanidade acordou para sua vulnerabilidade, e as pessoas reaprenderam a olhar o próximo. A solidariedade reuniu indivíduos, empresas e o setor público com rapidez e criatividade, que geraram estratégias sanitárias e econômicas.

No Brasil, vimos um trabalho conjunto dos setores público e privado, de governos e sociedade civil, de trabalhadores e empresários de todos os setores da economia. Um exemplo: os programas de auxílio emergencial tiveram impacto social, mas também na sustentação do consumo, da demanda agregada e da atividade econômica.

Foram igualmente importantes a atuação eficiente do Banco Central e a robusta concessão de R$ 3 trilhões em crédito pelo setor bancário, essencial para preservar vidas e empregos. A carteira de crédito das empresas cresceu 21% em outubro ante 2019, maior taxa em dez anos. O estoque de crédito das famílias e empresas deve se ampliar em 14% neste ano —desempenho extraordinário, pois a economia vai encolher fortemente.

Se 2020 não está sendo tão ruim quanto temíamos, isso deveu-se a muito trabalho. No início, as previsões eram de que a economia brasileira iria cair até 10%. Vamos fechar o ano com retração bem menor.

Mas todo sacrifício e conquistas acumuladas perderão o sentido se não encararmos os desafios que se impõem em 2021. É hora de assumirmos as responsabilidades. Todos as temos.

Aprendemos que, quando o interesse real da sociedade está em jogo, Executivo, Legislativo, Judiciário e o setor privado sabem e podem agir de forma coordenada e eficaz. É o que precisamos no próximo ano. Devemos aproveitar essa sinergia e trabalhar na superação das nossas vulnerabilidades fiscais e econômicas.

Para voltar a crescer, precisamos manter, com rigor, a disciplina fiscal e retomar urgentemente a agenda de reformas estruturais. Assim criaremos ambiente econômico e de negócios que permita uma retomada acelerada dos investimentos —a alavanca do crescimento e da melhoria das condições de renda da população.

Temos de preservar o teto de gastos como ponto de partida e de chegada. A disciplina fiscal não é garantia do desenvolvimento, mas a desorganização fiscal é caminho desastroso para o baixo crescimento.

Já andamos várias casas para trás e temos de acelerar o passo. O retorno à melhoria e ao aperfeiçoamento do nosso ambiente de negócios é fundamental. Precisamos investir para elevar a nossa produtividade. Fazer mais com menos.

O atual modelo tributário é vergonhoso e perverso com a produção, o consumo e os investimentos. É urgente sua reforma, não para aumentar ou reduzir a carga, mas permitir melhor funcionamento da economia. Outra prioridade é a reforma administrativa: o crescimento de longo prazo também passa por um funcionalismo mais enxuto, eficiente a alinhado com as necessidades da população.

Temos ainda de encarar o custo elevado e estrutural do crédito, para dar dinamismo à economia. Exemplos são a melhora da segurança jurídica das garantias e da recuperação do crédito; o custo da inadimplência; a cunha fiscal da intermediação financeira; e os riscos trabalhistas e legais que impactam nos custos operacionais.

Sem esquecer de todos que sofreram e da importância de ainda manter as cautelas sanitárias, ao superarmos as lições de 2020, abriremos o caminho sustentável e promissor para os próximos anos.

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