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Eduardo Ribeiro e Hamilton Almeida

Ele nasceu há 160 anos e inventou o rádio, mas o Brasil não o conhece

Em 1899, Padre Landell realizou a primeira transmissão sem fio de voz humana

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Eduardo Ribeiro

Jornalista e diretor da newsletter Jornalistas&Cia

Hamilton Almeida

Jornalista, escritor e autor do livro inédito ‘Padre Landell: o brasileiro que inventou o wireless’

Esta quinta-feira (21) merece uma celebração. Principalmente por todos os que estão envolvidos com o fantástico e dinâmico mundo das telecomunicações.

Há 160 anos, no dia 21 de janeiro de 1861, nascia em Porto Alegre Roberto Landell de Moura, um raro talento científico ainda não devidamente reconhecido no país, em que pese o esforço de vários brasileiros em resgatar a sua memória na última década. Padre Landell, como ele gostava de ser chamado, realizou a primeira transmissão “wireless” de voz humana por ondas de rádio da história da humanidade. A proeza aconteceu em 16 de julho de 1899, quando ele era pároco na capela de Santa Cruz, no bairro de Santana, zona norte da capital paulista.

Padre Roberto Landell de Moura, inventor brasileiro
O padre brasileiro Roberto Landell de Moura, que realizou a primeira transmissão sem fio de voz humana por ondas de rádio - Reprodução

Nas dependências do Colégio Santana, ao lado da capela, ele reuniu empresários, o cientista Antônio Francisco de Paula Souza, fundador e diretor da Escola Politécnica, a tradicional instituição de ensino hoje integrada à USP, e a imprensa.

Em 3 de junho de 1900, repetiu a experiência ligando o alto de Santana à avenida Paulista, 8 km em linha reta. O cônsul britânico Percy Charles Parmenter Lupton testemunhou o evento, como mostrou uma reportagem da imprensa.

Apesar do êxito científico das experiências públicas e de ter patenteado as suas invenções no Brasil (1901) e nos Estados Unidos (1904), Padre Landell jamais conseguiu concretizar a última etapa do seu sonho: levantar recursos financeiros para desenvolver e implantar um sistema de rádio no Brasil.
O que ele encontrou pelo caminho foram as pedras da injustiça e da indiferença. Chegaram, inclusive, a destruir o seu laboratório em Campinas (SP), no final do século 19, porque, sombriamente, acreditavam que o padre se comunicava com o demônio...

Na mesma época, o italiano Guglielmo Marconi conquistou fama mundial com a invenção do telégrafo sem fio. A radiotelegrafia era, no entanto, bem diferente da invenção do padre-cientista. Marconi fez transmissões de sinais em código Morse, enquanto o brasileiro colocava a voz em ondas de rádio.
Quando morou em Nova York e lutava com dificuldades financeiras para sobreviver e patentear o rádio, Landell começou a projetar a televisão e o telex. Em 1904, antes de outros cientistas, ele já estudava como transmitir imagens e textos por ondas eletromagnéticas —a mesma “estrada” em que ele transmitira a voz humana e sons musicais e que seria, nos tempos modernos, o canal para a criação de diversas invenções “wireless”, como o telefone celular.

Nenhum cientista foi tão abrangente no campo das telecomunicações. O seu talento transbordou, extravasou o tempo. Todo esse esforço gigantesco de criação foi interrompido, sufocado, porque, pelas suas próprias palavras, o forçaram a abandonar a carreira científica.

O obscurantismo o venceu, mas não conseguiu apagá-lo da memória. Padre Landell é merecedor, pelo seu legado, de sair da condição de personagem à margem da história para ocupar um lugar de destaque na história do rádio e das telecomunicações.

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