Por que mulheres negras são maioria nas igrejas evangélicas?

A bancada evangélica não representa o perfil dos evangélicos no país

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Luciana Petersen

Evangélicos são um grupo em ascensão no Brasil, mas os que formam a bancada evangélica têm projetos reacionários e que ferem o estado laico. Essa bancada não representa o perfil dos evangélicos no país.

Mulheres negras são a maioria dentro das igrejas, embora nos espaços de poder, bem como no imaginário das pessoas, imperem homens brancos.

Então por que tantas mulheres negras, atingidas pelo racismo, pelo machismo e por outras opressões, estão nas igrejas?

A ativista estadunidense Sojourner Truth (1797-1883) é considerada uma das precursoras do feminismo negro. Ela nasceu escravizada e, quando conseguiu a liberdade, atuou como abolicionista e pregadora evangélica itinerante. Em seu discurso mais famoso "Não sou eu uma mulher?", Sojourner Truth denunciava as disparidades entre mulheres negras e mulheres brancas:

"Aqueles homens ali dizem que as mulheres precisam de ajuda para subir em carruagens, devem ser carregadas para atravessar valas e merecem o melhor lugar onde quer que estejam. Ninguém jamais me ajudou a subir em carruagens ou a saltar sobre poças de lama, e nunca me ofereceram melhor lugar algum! E não sou uma mulher? (...) Eu pari 13 filhos e vi a maioria deles ser vendida para a escravidão, e quando eu clamei com a minha dor de mãe, ninguém a não ser Jesus me ouviu! E não sou uma mulher?"

A experiência de Sojourner Truth ecoa em mulheres negras evangélicas até hoje. Ela encontrou na fé o impulso para lutar por seu povo. A espiritualidade, em todas as suas expressões, é uma forma de humanização para o povo negro.

Quando tudo o que o mundo faz é desumanizar e silenciar, na experiência de fé somos capazes de falar e ser ouvidas por Deus. Para mulheres negras que não têm acesso a saúde, emprego e educação, clamar aos céus por cura e dignidade pode ser a única opção.

Políticos brancos evangélicos, em sua busca incessante por poder e dinheiro, não estão preocupados com o genocídio que atinge irmãos negros nem com as desigualdades sociais entre o povo. No meio do discurso herdado da ditadura, em favor de "Deus, família e moral", os sepulcros caiados ignoram que famílias negras são sagradas e devem ser protegidas, desprezam os conceitos bíblicos de amor ao próximo e de luta por justiça.

Se há uma experiência evangélica emancipatória, ela não está nos projetos cristãos colonizadores, mas existe e resiste nas periferias, nas teologias negra e feminista e no clamor e na luta do povo por pão e dignidade.

Luciana Petersen é jovem batista, estudante de jornalismo, feminista negra, editora e podcaster no Projeto Redomas

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