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Ana Sandra Fernandes Arcoverde Nóbrega

Saúde mental em tempos pandêmicos

Mais do que nunca, incertezas impõem cuidado constante, de janeiro a janeiro

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Ana Sandra Fernandes Arcoverde Nóbrega

Psicóloga, é presidente do Conselho Federal de Psicologia

Recém-ingressos em 2021, para além da renovação do ciclo de esperança e do desejo de prosperidade, somos atingidos por uma série de dúvidas, angústias e aflições que marcam toda passagem de ano.

Transcorridos dez meses de um cenário pandêmico —ainda sob incertezas quanto às próximas etapas de enfrentamento à Covid-19 e sem definições objetivas quanto a um plano de imunização capaz de atender a toda a população—, os sofrimentos de ordem psíquica e emocional continuam preocupando nossa sociedade, dada a intensidade com a qual fomos impactados pela crise sanitária em curso.

No último ano, a importância do cuidado em saúde mental tomou proporções inéditas, a reboque das consequências de um dos cenários mais assustadores e desafiadores da história recente. Falar sobre saúde mental sempre foi e será imperativo na medida em que nela se refletem todas as vivências e condições humanas. Tudo o que acontece com as pessoas em seu cotidiano infere resultados (positivos ou danosos) à saúde física e mental dos indivíduos e, por consequência, das coletividades.

A pandemia, sem dúvida, apresenta complexidades que ainda hoje são difíceis de contornar. Mas não podemos perder de vista que situações (infelizmente) cotidianas —como as injustiças sociais (falta de equidade no acesso a políticas de saúde, educação, trabalho, renda, lazer e previdência), as violências (contra crianças, adolescentes, mulheres e idosos) e os preconceitos (raciais e de gênero, entre outros)— afetam sobremaneira a saúde mental tanto quanto ocasiões raras.

É por isso que a saúde mental precisa constantemente ser debatida com seriedade, tendo como perspectiva o melhor cuidado possível à população a partir dos avanços logrados com a reforma psiquiátrica.

Para que o tema esteja permanentemente em discussão, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) passou a incorporar em seus diálogos, a partir de 2019, a ideia de se problematizar a saúde mental em todos os meses do ano, de janeiro a janeiro, ciente de que uma data específica não seria capaz de contemplar todas as complexidades e dimensões inerentes ao assunto. Dessa forma, o CFP intensificou em suas lives transmitidas ao longo de 2020 a compreensão de que este é um tema transversal a todas as funções da autarquia —enquanto instituição responsável por orientar, fiscalizar e disciplinar o exercício profissional de mais de 386 mil psicólogas e psicólogos em todo o Brasil.

Para a psicologia, o enfrentamento às desigualdades, à opressão e a todas as formas de crueldade ou violência que prejudicam imensamente a saúde mental é um compromisso ético que guia a atuação de nossa categoria. Buscamos de modo incessante a promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade de todas as pessoas, desejando que a nossa profissão pactue sempre para a consolidação de uma sociedade menos desigual, mais fraterna e saudável.

Convidamos toda a sociedade a debater, pensar e cuidar da saúde mental. De janeiro a janeiro.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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