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Vermelho com listras

Governo Doria acerta ao endurecer as restrições, mas critérios suscitam dúvidas

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Movimentação na rua 25 de Março, em São Paulo, no final de 2020 - Bruno Santos - 28.dez.2020/Folhapress

O governo paulista reagiu mais uma vez ao aumento vertiginoso dos casos de Covid-19 e enrijeceu medidas de distanciamento social.

A evolução recente de infecções e mortes de fato causa alarme. Nas três primeiras semanas do ano, comparadas com igual período em dezembro, observaram-se incrementos de 42% e 39%, respectivamente, nesses indicadores trágicos.

Desta feita, a administração de João Doria (PSDB) criou uma fase vermelha intermitente. Ou, melhor dizendo, uma intermitência diferente da que já adotara nas festividades de fim de ano, quando se aplicou o nível mais elevado de restrições apenas nos feriados, com quatro dias de intervalo.

A partir de terça (26), parte dos municípios paulistas terá de fechar todos os estabelecimentos de serviços não essenciais, mas só em período noturno e fins de semana. A lógica desse esquema temporal, segundo o Centro de Contingência, está em diminuir aglomerações promovidas em bares.

O critério deixa margem a algum questionamento. Cabe perguntar, de início, que evidências sustentam essa singularização da vida noturna como foco principal de transmissão do coronavírus.

Causam repulsa, decerto, os ajuntamentos de frequentadores irresponsáveis. Porém não resta evidente por que manter abertos centros de compras durante a maior parte do dia, por exemplo, ainda que com uso obrigatório de máscaras.

Entende-se que o trancamento generalizado do comércio seja algo traumático, do ponto de vista social e econômico (para não dizer tributário), e que o governador hesite em adotar medidas mais duras. Mas seja por fadiga diante do prolongamento da epidemia, seja por imperativos de sobrevivência, o distanciamento social permanece na casa de insuficientes 40%.

O arranjo adotado entre Natal e Ano-Novo decerto não foi capaz de evitar a explosão da Covid-19 nas primeiras semanas do ano, e há que aprender algo com o fracasso.

Os governos estadual e da capital, afinal, já flertaram com a imprudência sanitária ao adiar sem motivo claro o endurecimento de restrições para depois do segundo turno da eleição municipal.

Doria angariou prestígio com atuação tempestiva e decidida, em contraste com a leniência mortal do governo Jair Bolsonaro, para possibilitar que o Instituto Butantan desse ao Brasil os primeiros lotes de vacina contra a Covid.

Não basta, porém, repetir que não se curva a pressões e se ampara na melhor ciência —o governador deve se esforçar para comprová-lo a cada passo que der.

editoriais@grupofolha.com.br

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