Apenas entre os negacionistas delirantes ainda existe uma dicotomia entre medidas de combate à pandemia e a preservação da economia. O atraso da campanha de vacinação e a tragédia em Manaus, ambos com as digitais do Planalto, mostram claramente que a irresponsabilidade custa vidas e empregos ao mesmo tempo.
Desde o início da pandemia ficou claro que o principal risco para a economia decorre do contágio acelerado e sem controle. Conforme se aproxima o esgotamento do sistema de saúde por causa do crescimento do número de internações, as autoridades deixam de ter opções gradualistas.
Toques de recolher e interrupção radical de atividades acabam se tornando obrigatórios para evitar um drama humanitário ainda maior. A população, que percebe os riscos, também passa a adotar comportamento cauteloso e mesmo exigir ações drásticas.
No caso da vacina, a inépcia do governo federal em assegurar acesso célere às várias alternativas que se tornaram disponíveis também se mostra custosa e ilógica. Imunizar rapidamente, além do imperativo sanitário, é o melhor e mais barato estímulo econômico possível.
Como já começa a ficar evidente nos países que estão na dianteira do processo como Israel e, em menor grau, Reino Unido e EUA, o foco inicial nos grupos vulneráveis tem o potencial de reduzir prontamente as internações e ameaça de sobrecarga nos hospitais.
No caso americano, os estratos que compõem os 10% da população a ser vacinada até fevereiro representam metade dos casos graves que exigem hospitalização. Estima-se que haverá queda drástica de mortes em poucas semanas.
Embora o número de novos casos ainda possa permanecer elevado até que parcela suficiente da população seja imunizada, como se espera até o segundo semestre na Europa e nos Estados Unidos, a imunização dos grupos vulneráveis pode ter impacto econômico positivo em prazo bem mais curto.
Tudo isso demonstra quanto custou ao país a irresponsabilidade do governo Jair Bolsonaro, que deveria ter fechado acordos com as várias empresas que buscavam a vacina, garantindo alternativas.
A negativa do governo a uma oferta formal da Pfizer, a primeira empresa a obter aprovação regulatória para seu produto, constitui um prova documental dessa inoperância, que significa perdas de vidas e de empregos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.