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Epidemia autoritária

Vírus motivou obstrução de liberdade e informação em 83 países, incluindo Brasil

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Jornalista socorre colega que desmaiou após repressão da polícia a protesto em Porto Príncipe, no Haiti - Jeanty Junior/Reuters

Relatório da organização não governamental Human Rights Watch, divulgado na quinta-feira (11), mostrou que governos de 83 países usaram a pandemia de Covid-19 como pretexto para cercear a liberdade de expressão e de reunião.

Governantes de perfil autoritário, como os de Hungria, Polônia e Belarus (este, um ditador sem disfarces), usaram o poder do Estado para ameaçar e prender jornalistas, fechar veículos da imprensa e reprimir críticos ligados ao setor de saúde e a grupos de oposição.

Em Bangladesh, China e Egito registraram-se prisões de pessoas que discordaram de respostas das autoridades à pandemia. Na América Latina, não surpreende que as ditaduras de Cuba e Venezuela façam parte da lista.

O Brasil também é mencionado no relatório, que cita atos do governo Jair Bolsonaro com o intuito de sonegar informações públicas sobre a doença. Como se sabe, foi graças à iniciativa de um consórcio de órgãos da imprensa, do qual esta Folha participa, que os brasileiros tiveram assegurado o acesso a estatísticas diárias sobre o número de casos e de óbitos.

Dependesse apenas do governo federal, o país estaria entregue a manipulações de dados e à desinformação, como demonstraram inúmeras atitudes do presidente.

Em sua ofensiva contra evidências científicas e possíveis adversários políticos, Bolsonaro removeu Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde e, depois de uma breve passagem do médico Nelson Teich, veio a efetivar na pasta o general da ativa Eduardo Pazuello.

A gestão da grave crise sanitária passou às mãos de um quadro despreparado, que tem se mostrado submisso aos humores do mandatário e cúmplice de decisões que agridem a transparência.

É pertinente, como se verificou em países democráticos, que se tenham travado debates —não raro chegando a protestos populares— sobre as eventuais contradições entre liberdades individuais e a necessidade de fazer prevalecer os direitos da coletividade.

Afinal, trata-se de um contexto em que medidas restritivas se mostraram incontornáveis para deter a propagação do vírus e evitar o colapso da rede hospitalar.

Tais questões, contudo, não autorizam ataques contra a liberdade de informação e de expressão e a violência contra opositores.

Como declarou um diretor da Human Rights Watch, “os governos devem combater a Covid-19 encorajando as pessoas a usarem máscaras, e não impondo mordaças”.

editoriais@grupofolha.com.br

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