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Estrela cadente

Mianmar volta ao controle militar e vê declínio de ex-símbolo da resistência

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A líder Aung San Suu Kyi, de Mianmar - KHAM/AFP

Nascido em 1948 pelas mãos de um general e governado por boa parte de sua história mais recente por ditadores ou juntas militares, Mianmar surpreendeu o mundo ao patrocinar uma transição pacífica de poder a partir de 2010.

O país do Sudeste Asiático, empobrecido e de médio porte, com 54,4 milhões de habitantes, logrou uma entrega voluntária de comando dos fardados até a eleição de 2015, vencida pelo partido da mais famosa líder da resistência pacífica ao arbítrio, Aung San Suu Kyi.

Filha do general fundador do país, de início chamado Birmânia, Suu Kyi passara 15 anos em prisão domiciliar até ser solta em 2010.

Tornou-se símbolo para ativistas humanitários do Ocidente, sendo premiada em 1991 com o Nobel da Paz. A compleição frágil dessa mulher, hoje com 75 anos, adicionava dramaticidade à sua luta.
Como não poderia virar presidente por ter tido marido e filhos estrangeiros, galgou o poder ao criar para si o cargo de conselheira do Estado, com poderes amplos.

Foi o início de um caminho descendente em termos de prestígio internacional, culminando em supervisão, acobertamento e defesa do papel de seu país no massacre da minoria muçulmana rohingya.

Suu Kyi negou o evento macabro, reportado por agências humanitárias. Honrarias lhe foram retiradas, embora ela retenha o Nobel.

Em casa, a líder permanecia popular. Mas sua ascensão desagradou os militares que, na transição de poder, mantiveram uma enorme musculatura no aparato do Estado, incluindo uma bizarra reserva de assentos no Parlamento.

Eles sacaram a carta da acusação de fraude eleitoral no pleito parlamentar de novembro passado para voltar a pressionar o governo.

O partido de Suu Kyi venceu com mais de 80% dos votos, vitória vista como suspeita até por monitores estrangeiros. Mas os militares, após exigir um novo pleito, resolveram retomar as velhas práticas.

Um general assumiu o comando interino do país por um ano, prometendo eleições livres depois disso —algo incerto. Suu Kyi e seus lugares-tenentes foram presos.

A China e os países vizinhos, todos com suas próprias tensões internas, evitaram condenação do golpe —que não foi assim chamado pela diplomacia brasileira.

Sobra ao Ocidente o dever moral de criticar o movimento, por inócuo que possa ser o gesto, sem ignorar a decadência do símbolo que um dia Suu Kyi encarnou.

editoriais@grupofolha.com.br

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