A recessão ocasionada pela pandemia foi diferente do padrão, pois afetou mais seriamente os serviços, enquanto a demanda por bens foi mais preservada, ajudada também pelo auxílio emergencial.
É o que mostra o resultado da indústria em 2020. Embora a queda da produção tenha ficado em 4,5%, a maior desde 2016, houve crescimento sólido ao longo do segundo semestre, e a atividade agregada fechou o ano em nível 8,3% acima do observado no final de 2019. Enquanto isso, vários segmentos dos serviços continuam a patinar.
Os motivos para o bom desempenho recente se mostram variados. A defesa da renda das famílias com as transferências do Estado aqueceu setores como alimentos e construção civil. Nos últimos meses, a retomada se generalizou para os bens duráveis e até alguns produtores de maquinário.
Outro fenômeno importante foram descasamentos entre demanda e oferta. No início da pandemia, empresas pararam por causa da perspectiva de queda das compras e problemas para obter insumos.
Entretanto a procura voltou mais rapidamente que o antecipado, e vários setores se viram sem estoques. Mesmo ainda com dificuldades logísticas, o crescimento recente da produção foi notável.
O resultado favorável, contudo, não pode ser tomado como tendência. Embora ainda haja perspectiva de expansão, o fim do auxílio emergencial implicará impacto negativo na renda da população.
As deficiências tradicionais, além disso, não mudaram. O Brasil permanece um lugar caro para a atividade produtiva, com baixa integração às cadeias globais e em contínuo processo de obsolescência em comparação aos principais centros de produção e inovação.
Nem mesmo o câmbio mais desvalorizado, no patamar sempre sonhado pelos assim chamados desenvolvimentistas, é capaz de proporcionar um impulso sustentável —inclusive porque o país é dependente de importação de bens mais sofisticados, agora encarecidos.
A expectativa para o futuro próximo pode até ser positiva, num cenário de vacinação mais acelerada e aderência do governo ao básico da responsabilidade fiscal.
Em prazos mais longos, contudo, pouco será atingido sem reformas que reduzam o custo doméstico e estimulem a produtividade.
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