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Nova corrida

Mutações do vírus tornam crucial que países busquem maior variedade de vacinas

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Militares da FAB fazem embarque de vacinas em avião no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP) - Zanone Fraissat/Folhapress

A segunda e pavorosa onda de Covid-19 a assolar Manaus derruba a tese da imunidade coletiva, mal denominada “de rebanho”, a que muitos se agarraram. Comprova, ainda, o poder da seleção natural darwiniana negada por criacionistas, muito encontradiços entre os que menosprezam a pandemia.

Estimava-se que três quartos da população manauara tivessem contraído o coronavírus Sars-CoV-2 na primeira investida. Como o atual repique veio mais forte e mortal, a ponto de bater recordes mundiais de taxa de infecção, multiplicam-se as hipóteses para explicá-lo —e nenhuma delas parece auspiciosa.

Uma: a estimativa sobre moradores imunizados pelo contágio estaria superestimada. Outra: ela seria correta, mas a imunidade conferida teria decaído com o tempo. Outra ainda: as defesas dos infectados não seriam capazes de protegê-los contra as mutações P.1 na capital amazonense, dando espaço para uma vaga de reinfecções.

Preocupa mais a última possibilidade, porque sugere que a própria imunidade alcançada estaria exercendo a pressão seletiva em favor de mutações que permitam ao Sars-CoV-2 evadir-se de anticorpos. Charles Darwin explica.

Má notícia para a esperança depositada nas vacinas disponíveis, que de resto já tiveram constatada diminuição de eficácia contra variantes surgidas no Reino Unido e na África do Sul.

A Coronavac (Sinovac/Butantan) pode apresentar ligeira vantagem, sendo composta por coronavírus inativados. Outros pedaços do patógeno, neste caso, ajudariam a desencadear a reação imune.

Já as que usam tecnologia de mRNA (Pfizer/BioNTech e Moderna) podem ser modificadas em pouco tempo, talvez seis semanas, para agir contra as novas variantes. Contudo, são mais dispendiosas e exigem logística complexa.

Torna-se vantajoso para todo país, portanto, ter acesso a vários tipos de vacina e, assim, obter maior flexibilidade epidemiológica. O Brasil, por imprevidência do governo Jair Bolsonaro, só conta até março com dois produtos e 46 milhões de doses, bastantes para imunizar meros 11% da população.

Nesse cenário, são compreensíveis —e até bem-vindas— as pressões políticas para apressar a aprovação de imunizantes, desde que, claro, não se sobreponham aos critérios de segurança e eficácia.

Algumas conclusões se impõem nessa corrida das vacinas contra os mutantes e contra a escassez.

Nenhum país estará inteiramente seguro acumulando imunizantes, porque podem surgir alhures variedades que os tornem obsoletos; vacinar rapidamente é importante para diminuir oportunidades de o vírus sofrer mutações.

Por fim, na incerteza quantitativa e qualitativa sobre vacinas, máscaras, higiene e distanciamento social permanecem armas indispensáveis contra a pandemia renitente.

editoriais@grupofolha.com.br

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