Na quarta (24), o deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) reafirmou ao Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo a versão fantasiosa que divulgou logo após ter sido flagrado num gesto de importunação sexual contra sua colega Isa Penna (PSOL).
Em sua defesa, Cury declarou que apenas abraçou a parlamentar num “gesto de gentileza” —um tipo de afago que faria parte de seu modo habitual de tratar mulheres. “Vocês conhecem minha índole e esse meu jeito de abraçar, beijar e demonstrar carinho”, disse, reconhecendo, contudo, que esse comportamento peculiar “não é tolerado por parte das pessoas”.
O principal problema da versão apresentada ao conselho é que ela não corresponde ao que se constata na gravação em vídeo do episódio. O que se vê não é um alegado abraço fraternal, mas uma abordagem insidiosa por trás da deputada, com um afago na altura da base de seu seio direito —contato que é por ela prontamente repelido.
Trata-se de flagrante quebra de decoro parlamentar que merece ser punida, no âmbito da Alesp, com a cassação do mandato de Cury. Não é esse o desfecho, contudo, o que se desenha no horizonte.
Apesar das evidências e das manifestações públicas favoráveis à cassação, a tendência do Conselho de Ética é propor uma suspensão. O relator do caso, Emidio de Souza (PT), considera improvável que se formem as maiorias necessárias no colegiado e no plenário para impor a medida.
Diante do risco de a derrota da proposta dar margem a uma punição irrisória, a alternativa seria suspender Cury do exercício do mandato por um período de tempo.
A própria deputada, embora insista na tese da cassação, parece perceber que sua demanda irá esbarrar no conservadorismo e no corporativismo da Alesp. Tanto é assim que, em nota emitida por sua assessoria, considera que a suspensão, caso “seja o caminho escolhido”, precisaria corresponder à gravidade do ocorrido.
Penna avalia que Cury, nessa hipótese, deveria ser suspenso por um ano —ao passo que os sinais no conselho apontam para 120 dias.
Paralelamente, a Justiça de São Paulo já autorizou investigações contra o deputado, atendendo a denúncia do Ministério Público. Já é hora de homens entenderem que há leis sobre importunação e assédio sexual e que não podem tratar mulheres simplesmente segundo o “seu jeito” de ser.
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