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Repressão indiana

Reação a protestos de agricultores atinge jornalistas, em escalada autoritária

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Setor agrícola protesta contra reformas liberais na Índia - Money Sharma/AFP

Com uma força de trabalho ainda majoritariamente rural, a Índia tornou-se palco, nos últimos meses, de imensas manifestações de agricultores contra mudanças legislativas do setor, no que já configura um dos maiores desafios ao governo do primeiro-ministro Narendra Modi desde de sua chegada ao poder, em 2014.

Os trabalhadores se insurgem contra três projetos de lei do Executivo com o objetivo de remodelar a atividade, que responde por 15% da economia indiana.

De inspiração liberal, os novos diplomas afrouxam as regras sobre a venda, o preço e o armazenamento de produtos agrícolas, que durante décadas protegeram o setor, e buscam incentivar a venda dos alimentos a empresas privadas.

A promessa de que as medidas propiciarão crescimento da renda não convenceu os agricultores, em sua maioria pequenos proprietários. Eles temem ser esmagados pelas corporações, já que, atualmente, vendem a maior parte de seus produtos em mercados atacadistas controlados pelo governo, com preços mínimos garantidos.

O embate dos manifestantes, que acamparam pacificamente nos arrabaldes de Nova Déli por mais de dois meses, mudou de patamar no fim de janeiro. No Dia da República, o protesto se tornou violento depois que agricultores avançaram com tratores sobre barreiras da polícia. Houve confronto, e um trabalhador terminou morto.

O governo respondeu com dureza. Eletricidade e fornecimento de água foram interrompidos de forma intermitente nos acampamentos; a internet foi cortada.

As medidas, porém, logo extrapolaram esse alvo, e autoridades dirigiram sua ofensiva também contra a imprensa e políticos da oposição. Jornalistas envolvidos na cobertura dos protestos foram acusados de crimes como sedição, criar inimizade entre grupos, provocação contra a paz, conspiração e desrespeito a sentimentos religiosos.

Embora reações dessa natureza não sejam exatamente novidade na história indiana, analistas afirmam que a repressão vem recrudescendo no governo de Modi, quando as acusações de sublevação feitas a vozes opositoras cresceram exponencialmente, como forma de intimidação.

Tais ameaças explícitas à liberdade de expressão se juntam, assim, à controversa agenda nacionalista do premiê, que busca marginalizar os muçulmanos e tornar a Índia uma nação de supremacia hindu —uma combinação corrosiva para a democracia do país.

editoriais@grupofolha.com.br

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