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Débora Garofalo

A triste solidão da educação brasileira

Precisamos discutir um processo qualificado, igualitário e comprometido

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Débora Garofalo

Mestra em educação, é professora na rede pública de São Paulo; em 2019, foi a primeira sul-americana a disputar o Global Teacher Prize, sendo considerada uma das dez melhores professoras do mundo

Temos vivido tempos difíceis na educação. O agravamento da pandemia e a ausência de uma coordenação do Ministério da Educação para os problemas em diferentes regiões do nosso país fazem com que uma das queixas recorrentes dos educadores seja lidar com a falta de infraestrutura, além do sentimento de solidão na sala de aula —não observado apenas neste ambiente, mas sim em todo o processo educativo.

Com o início da pandemia, vimos a educação parar no chão da escola. O que pensávamos que duraria poucas semanas foi substituído por um longo e angustiante período que já soma um ano, com consequências graves à aprendizagem de crianças e jovens e nos colocando no topo do ranking dos países que não conseguem controlar a pandemia e com o maior tempo de escolas fechadas. A epidemia de Covid-19 não só aumentou as desigualdades, mas a evidenciou de uma maneira brusca.

A escola não pode ser vista apenas como um local para aprendizagem. Muitas vezes ela é a extensão da casa dos estudantes, que cumpre e integra a rede de proteção da infância e adolescência nos papéis de garantir alimentação, convívio social, assistência médica e psicológica; ou seja, é reconhecida a necessidade de caminharmos para uma educação com valores integrais.

Há um ano com aulas mediadas por tecnologia ou distribuição de materiais didáticos, podemos destacar que a educação brasileira está solitária. Assistimos à inércia do MEC e à ausência de orientações para aulas no formato híbrido, além da falta de ações para o retorno presencial seguro e o fomento a políticas públicas, como o investimento em programas como o Educação Conectada. Fatores que deveriam ser prioridade para a elaboração de diretrizes básicas, com o objetivo de orientar redes e governos.

O novo Fundeb, aprovado no final do ano passado, não será suficiente para superar os desafios e assegurar o retorno seguro e híbrido das aulas presenciais. Constantemente sofremos com ameaças de corte na pasta da Educação, mostrando ausência de diálogo e prioridade no setor. Erros que se somam ao passado recente e que novamente afetarão milhares de crianças e jovens.

No centro do processo, deve-se destacar o protagonismo docente, que materializou o planejamento e a gestão das ações nas unidades escolares, mostrando o importante papel social de construir saberes e o desenvolvimento integral que fundamenta a sociedade. Para planejar e executar as reaberturas das unidades escolares são necessários investimentos e, mais do que isso, fomentar diálogos com o território educativo e com quem faz a educação na ponta —gestores, professores e estudantes, com construção de protocolos locais, constituídos de maneira democrática.

Problemas educacionais também são problemas de desigualdade social. Promover a inclusão e a democratização digital a professores e estudantes é essencial para criar vínculos e pertencimento com o cognitivo, além da necessidade de ressignificar a educação. Caminhar para a educação híbrida é essencial para atender e cumprir os protocolos de saúde e de distanciamento social para o retorno gradual e, em paralelo, contribuir para a recuperação da aprendizagem.

Um dos maiores aprendizados desta pandemia é o de que nada substitui as aulas presenciais. E, para reinventar o processo educacional, é necessário se guiar de ações pertencentes, que envolvam a comunidade escolar e contemplem o risco de evasão —muitos jovens foram obrigados a emergir no mundo informal do trabalho. Não só a economia deve ser priorizada, mas também a educação.

Conseguimos descobrir a vacina para a Covid-19. Agora é preciso reunir esforços para transformar e priorizar a educação brasileira. O caminho passa pelo trabalho coletivo, escuta ativa, investimentos relevantes e aposta na educação como transformação da sociedade. Não basta apenas tecer discussões sobre voltar ou não, precisamos discutir a partir da crise: como não termos um processo isolado, mas sim qualificado, igualitário, comprometido com a aprendizagem e com políticas factíveis para todos.

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