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Curva da morte

Ante descaso de Bolsonaro, devem-se apoiar governantes que tentam salvar vidas

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Sepultadores carregam caixão com vitima da Covid-19 no cemitério São Luiz, na zona sul de São Paulo - Lalo de Almeida/Folhapress

Ao acumular 42 dias num patamar de mais de mil mortes por Covid-19 a cada dia, a marcha macabra não dá sinal de ceder no Brasil. Ao contrário, segue em progressão exponencial, superando as marcas trágicas de julho do ano passado.

Em 25 de fevereiro, quebrou-se o recorde de 2020 pela primeira vez, com 1.582 mortes; na terça, 2 de março, 1.726; na quarta (3), 1.840.

O número absoluto ainda não supera as 2.468 mortes de quarta-feira nos Estados Unidos; lá, entretanto, as sequelas da irresponsabilidade negacionista de Donald Trump começam a refluir. O Brasil de Jair Bolsonaro ultrapassou os EUA em termos proporcionais, com 6,3 novas mortes por milhão de habitantes, contra 5,5 de americanos.

Não haverá surpresa, só estarrecimento renovado, se o placar lúgubre alcançar nos próximos dias 2.000 mortes. Mais que simples cifra, esse limiar simbólico a se acercar de modo vertiginoso deveria sinalizar para todos que a leniência diante da pandemia não pode continuar como está.

A emergência sanitária é grave e ímpar, pior do que em qualquer outro momento em 12 meses, pois a epidemia se agrava ao mesmo tempo em todo o território nacional. Como alertou em nota técnica a Fiocruz, 19 unidades da Federação enfrentam situação crítica em seus hospitais, com ocupação de leitos de UTI maior que 80% (10 delas acima de 90%).

São Paulo, onde a administração do estado manteve conduta racional, ainda observa lotação média de 76% dos leitos, mas a situação se deteriora em ritmo acelerado.

O governador João Doria (PSDB) anunciou a criação de 500 novas vagas de UTI, sem garantia contudo de evitar o colapso local, como se observou em Araraquara, ou geral, como pode acontecer nas próximas duas semanas.

A vacinação, como se sabe, é a única saída para a crise e precisa ser acelerada. Não existe tratamento precoce para as pessoas contaminadas, ao contrário do que propaga o presidente ignaro.

Só nos restam, pois, as alternativas das medidas comprovadas de prevenção, ditas não farmacológicas: máscaras, distanciamento social e higiene das mãos.

Mostra-se acertada, assim, a providência de estender para todo o território paulista a fase vermelha, de maior restrição para o comércio e a mobilidade das pessoas, ainda que eivadas de exceções. Cultos religiosos, por exemplo, costumam produzir focos de intensa contaminação. Não há nenhum sentido em mantê-los enquanto se fecham os parques públicos.

Governadores e prefeitos que fazem o possível para salvar vidas devem ser apoiados. Quanto ao presidente da República, apenas sua indiferença à mortandade supera a incompetência de sua gestão.

Basta de titubeio. As armadilhas lançadas por Bolsonaro têm de ser desarmadas com coragem e decisão, a fim de frear a curva da morte insuflada pelo Planalto.

editoriais@grupofolha.com.br

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