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Cúpula militar que sai teve mérito de zelar pela Carta; que a nova faça o mesmo

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Jair Bolsonaro, ainda presidente eleito, e a cúpula militar que acaba de deixar o governo - Sergio Lima - 22.nov.18/AFP

A saída simultânea dos três comandantes das Forças Armadas denuncia, em seu ineditismo, um presidente da República que desconhece o papel da corporação militar em uma democracia.

Jair Bolsonaro, um capitão reformado de carreira reles no Exército, deseja endosso mais explícito da caserna a seu governo —foi o que motivou, como convergem os relatos disponíveis, a substituição do ministro da Defesa no rearranjo do primeiro escalão promovido na segunda-feira (29).

Trata-se, quando menos, de incentivar inadmissível politização dos quartéis, ideia que parece excitar Bolsonaro especialmente às vésperas do aniversário do golpe de 1964 e quando se sente tolhido ou pressionado por instituições e forças representativas da sociedade.

Tal pretensão abjeta não encontra eco no alto oficialato ativo do país. “Preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”, manifestou-se em nota o general Fernando Azevedo e Silva, ao deixar a chefia do ministério. As palavras não estão lá por acaso.

O presidente se incomodava particularmente, conforme se noticia, com o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, por declarações contrárias à intromissão de militares na política e favoráveis a medidas de distanciamento social na Força para evitar a Covid-19. O agora ex-ministro permaneceu ao lado do comandante.

Se não dispõe de amparo a seus arroubos autoritários, Bolsonaro pretende exibir os militares como instrumento de intimidação.

Loteia o Executivo com fardados e dispensa tratamento orçamentário privilegiado à Defesa; acha-se no direito de chamar as tropas de “meu Exército” —que não ajudará a efetivar, segundo bravateia, medidas sanitárias de governadores.

Como se não bastasse, ele e seus seguidores se metem perigosamente em demandas de policiais civis e militares, em especial de escalões inferiores. Em exemplo recente e hediondo, a deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) defendeu um motim da PM baiana e chamou de herói um soldado que foi morto após atirar nos colegas.

A cúpula das Forças Armadas, felizmente, dá sinais de que compreende o dano sofrido com a associação ao governo Bolsonaro —e o fiasco do general Eduardo Pazuello na pasta da Saúde, que ameaça se transformar em ações na Justiça, é apenas o exemplo mais vistoso.

Com alguma habilidade, a crise militar pode se desfazer sem tensões adicionais. Azevedo, Pujol e os demais comandantes saem por seu acertos, e Jair Bolsonaro só revela fraqueza quando tenta mostrar força além da conferida e limitada pela Constituição.

editoriais@grupofolha.com.br

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