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Paulo Menezes

É correto São Paulo manter templos religiosos abertos no pior momento da pandemia? SIM

População é muito religiosa, e isso ajuda no enfrentamento das adversidades

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Paulo Menezes

Epidemiologista, é coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo

A infecção do vírus se dá nas práticas coletivas e não nas orações individuais. O patógeno passa de uma pessoa para outra pelo contato social e não na solidão da prece.

Estamos enfrentando a pior pandemia da humanidade em mais de cem anos, por mais de 12 meses seguidos, e atualmente vivemos o pior momento de todo esse período. Há um ano, todas as atividades que envolvem algum tipo de proximidade social vêm sofrendo restrições, maiores ou menores. No comércio, nos serviços, na indústria, na educação, na saúde, na cultura, no lazer e na vida em família, a pandemia alterou drasticamente nossas vidas. A tecnologia permitiu mantermos os contatos afetivos e espirituais de forma virtual, o que sem dúvida foi de enorme importância para sobrevivermos a esse longo período de pandemia.

A população brasileira é muito religiosa e isso certamente ajuda no enfrentamento das adversidades. Para os devotos, a oração é parte da existência, do seu bem-estar, da sua saúde mental. Ciente do lugar tão relevante de práticas religiosas para grande parte de nossa população, o Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo procura respeitar esse aspecto da vida espiritual e emocional, além de proteger a saúde dos fiéis. A primeira recomendação é ampla, para todos os eventos coletivos: substituir a atividade presencial pela virtual, até que tenhamos o retorno da normalidade.

Entendendo que muitas pessoas necessitam dos rituais coletivos, foi elaborado o protocolo para essas práticas nas diferentes fases do Plano São Paulo. Mas, agora, o momento é distinto. Estamos no ponto mais agudo da pandemia e apenas altos níveis de isolamento social vão permitir uma redução progressiva no número de novos casos, enquanto se amplia a vacinação.

Nesta fase emergencial, os fiéis poderão ingressar nas igrejas e similares apenas para preces individuais, solitárias. Na medida em que se restabeleçam os parâmetros usuais da fase vermelha, as autorizações para missas e cultos seguirão o protocolo elaborado em parceria com diversos representantes dos setores e validado pela Vigilância Sanitária.

Os cuidados básicos para as outras fases são semelhantes aos de outros estabelecimentos: aferição de temperatura na entrada, obrigatoriedade do uso de máscara, inclusive pelos celebrantes e assistentes, e disponibilização de álcool em gel. Na fase vermelha, os cultos devem limitar a ocupação a 30% do total e os fiéis devem permanecer sentados, com distanciamento de 1,5 metro. Igrejas e templos precisam manter todas as portas e janelas abertas para ventilação adequada. Rituais de toque ou compartilhamento de objetos ficarão suspensos, assim como os coros musicais. E os futuros horários de missas e cultos precisam prever um intervalo entre as sessões, para evitar aglomerações de entrada e saída.

Vistas de maneira técnica, essas orientações às matrizes religiosas reafirmam a prudência com que o governador João Doria (PSDB) toma decisões na pandemia, seguindo diretrizes do Centro de Contingência.

São Paulo liderou a busca por vacinas no Brasil e vai conseguir proteger sua população com a produção contratada para chegar antes do final do ano. Tenho total convicção de que com a vacinação e com as medidas de distanciamento social, que reduzem a transmissão do vírus, iremos superar o difícil momento e poderemos finalmente viver de forma mais completa nossas vidas, em suas dimensões emocionais, sociais, econômicas e espirituais.

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