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Moreira Franco

O Brasil sem bússola

Carta pública pressiona governo a mudar de rota e seguir o rumo da ciência

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Moreira Franco

Ex-ministro de Minas e Energia e da Secretaria-Geral da Presidência (2017-2018, gestão Temer), da Aviação Civil (2013-2015, gestão Dilma) e ex-governador do Rio (1987-1991)

A carta púbica assinada por economistas, empresários, ex-ministros da Fazenda e do Banco Central de diversas gerações é um grito de socorro e um divisor de águas. Eles clamam por ciência e bom governo.

Vários nichos da sociedade —de médicos a artistas, cientistas e ambientalistas— já vinham expressando profundo mal-estar com a condução da crise sanitária e seus desdobramentos. Até então, a ala econômica do governo havia sido largamente poupada. A carta elucida que mais um apoio importante se esvai: o do mercado financeiro e de grandes empresários, que ajudaram a eleger o governo e agora ameaçam abandoná-lo caso não haja reação imediata. Basicamente o que pleiteiam é coordenação nacional e liderança, com medidas respaldadas pela ciência.

O nó da questão é justamente esse. Desde o início da crise, o presidente da República optou por não seguir a ciência. Apostou na ideologia de uma corrente contrária que faz muito barulho nas redes sociais, mas produz poucos resultados na vida real.

Enfatizou a dicotomia saúde versus economia, aspecto que a carta desmonta cabalmente ao apontar que não há como ter uma economia saudável e pujante com o colapso da saúde. As pessoas naturalmente se isolam para não se expor ao risco de doença e morte. Outros líderes, como o inglês Boris Johnson, também subestimaram a gravidade da pandemia. Mas rapidamente corrigiram o rumo e decretaram lockdowns quando apresentados com projeções da catástrofe iminente.

Hoje fica claro que discursos antivacina e pró-tratamento precoce, contra máscara e a favor de aglomerações têm um enorme custo para a saúde pública e a economia. Com o diagnóstico e remédio corretos, poderíamos começar a enxergar a porta de saída, como Estados Unidos e Israel, que apostaram na vacinação em massa. No entanto, estamos imersos no labirinto, perdidos e sem horizonte. A questão de fundo é política. O que está em jogo é o custo de corrigir esse rumo.

Houve uma primeira inflexão no que tange a vacinação. O governo já admite os benefícios e corre contra o tempo para assinar acordos com outros laboratórios. Embora pague o preço pelo erro de não ter assumido no ano passado a bandeira pró-vacina, como o Chile, um dos países que imunizaram maior parcela de sua população.

Acredito ainda haver tempo para o Executivo mudar a rota. Bastaria liderar ações de combate à crise no encontro agendado para esta semana com os Poderes Legislativo e Judiciário e entes da federação.

Pesquisas recentes mostram erosão de popularidade e desconfiança da população. Para recuperar o terreno perdido, é preciso apoiar os governadores, assumir postura clara pelo distanciamento social, vacinas e ciência. O Brasil não tem mais tempo a perder. A tragédia já está acontecendo.

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