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Kátia Abreu

O céu é o limite

Não podemos deixar escapar as parcerias com a China e a União Europeia

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Kátia Abreu

Senadora da República (PP-TO) desde 2007 e ex-ministra da Agricultura (2015-2016, governo Dilma), é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal

O Brasil precisa integrar-se ao mundo. O grau de abertura de nossa economia equivale a 22% do PIB, menos da metade da média mundial (45,2%). Países mais fechados que o nosso são apenas Cuba, Sudão e Turcomenistão.

Agora, como presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, trabalharemos para promover avanços na nossa política externa e para que o nosso país possa ampliar exportações e atrair mais investimentos externos.

A implementação do acordo entre Mercosul e União Europeia será um passo decisivo para sair desse isolamento, uma vez que poderá nos dar acesso preferencial a um mercado de 450 milhões de consumidores de alto poder aquisitivo. Um acordo que representará 25% do PIB mundial e que criará um efeito espelho capaz de atrair outros importantes acordos comerciais.

A questão ambiental constitui o grande empecilho à ratificação do acordo. Nossos parceiros europeus, atentos às demandas de seus eleitores —consumidores, na prática—, insistem na importância do Acordo de Paris e na consequente redução do desmatamento, ao mesmo tempo em que criticam a impunidade dos desmatadores ilegais.

Segundo dados do Observatório do Clima de 2020, o Brasil excedeu em 10% o limite definido pela Política Nacional para a Mudança do Clima nas emissões de gases de efeito estufa. Quanto ao desmatamento, o total verificado (11.700 km2) foi quase três vezes superior à meta prevista para 2020, de 3.925 km2.

Existe uma regra básica do mercado, segundo a qual o cliente sempre tem razão. Quem deseja vender produtos e atrair investimentos deve estar atento às exigências dos clientes e não de governos ou grupos de lobby.

O Brasil precisa dar sinais concretos para esses clientes sobre os esforços que vem empreendendo pela regularização fundiária e ambiental da Amazônia. Precisa conter com medidas enérgicas o desmatamento praticado por uma minoria em detrimento da grande maioria, que cumpre rigorosamente a legislação ambiental e é protagonista da maior agricultura tropical do planeta.

Outra questão que não podemos negligenciar é a parceria estratégica Brasil-China. Temos economias complementares e grande potencial de integração. O país asiático tornou-se o principal parceiro do Brasil, absorvendo 32,3% de nossas exportações (US$ 67,8 bilhões) em 2020. O Brasil responde por 4% das importações da China. Considerados apenas os produtos do agro, representamos 20%.

Os chineses planejam crescer na próxima década US$ 25 trilhões. Com essa previsão, as nossas vendas totais poderão ser ampliadas para o país em US$ 100 bilhões ao ano.

De modo a preservarmos nossos interesses, precisamos manter com a China uma relação respeitosa, sem preconceitos ideológicos.

Os certames licitatórios, por exemplo, não podem comportar vetos ou restrições políticas. Onde está em jogo a competitividade de nossa economia, como no caso do leilão do 5G, devem prevalecer os critérios de preço e qualidade.

O chanceler Ernesto Araújo e sua equipe mostraram-se sensíveis aos argumentos que apresentei em encontro recente. Tenho a convicção de que poderemos trabalhar de forma coordenada para que a política externa potencialize a retomada do crescimento e contribua para a melhora das condições de vida do povo brasileiro.

Estamos em meio a uma pandemia e vamos fazer tudo o que pudermos no Senado Federal para ajudar o nosso país. Sou partidária de consensos para aliviar a dureza dos tempos que correm. Ninguém modifica para melhor um país do porte do nosso só pela ação do Estado, ou do governo e do Congresso. Temos de contar com toda a sociedade, carregando o estandarte das mudanças, para construir um país à altura das nossas ambições.

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