Médico formado pela USP e ex-presidente da Fundação Instituto Butantan, Isaias Raw, 93, é cientista, empreendedor e defensor da saúde pública. Foi diretor do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (Ibecc, 1952) e criou os kits “O Cientista”, com experiências para fazer em casa. Fundou a Editora das Universidades de São Paulo e de Brasília, unificou os vestibulares de São Paulo (com Walter Leser), dirigiu a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (Funbec), criou a Fundação Carlos Chagas e o Curso Experimental de Medicina da USP.
Cassado pelo AI-5, trabalhou em Israel e em universidades norte-americanas como MIT e City College. De volta ao Brasil (início de 1980), Raw ajudou a transformar o Instituto Butantan no maior centro produtor de soros e vacinas do país, atingindo 200 milhões de doses anuais. Sempre considerou estratégico ser autossuficiente em imunobiológicos e que só um sistema produtivo instalado permitiria a apropriação de conhecimentos para ser inovador na área de biotecnologia.
Em 1985, quando a empresa Syntex encerrou sua produção, tivemos a crise da falta de soros antiofídicos. Isso demonstrou ser estratégica a produção de imunobiológicos no país, pois soros para serpentes locais não poderiam ser importados.
Assim foi criado o Programa de Autossuficiência Nacional em Imunobiológicos. Sob a liderança do professor Isaias, a produção de soros foi modernizada, passando de artesanal para um processo industrial fechado e automatizado. O Butantan tornou-se modelo internacional na produção de soros. Em paralelo, Isaias modernizou a produção industrial dos antígenos diftéricos (D), tetânicos (T) e pertussis (P) para compor as vacinas de DTP e DT adulto e pediátrico. O seu sucesso ficou evidenciado pela diminuição dos casos dessas doenças.
A primeira vacina brasileira recombinante (contra hepatite B) foi produzida sob sua supervisão, um caso exemplar de inovação nos anos 1990. A vacina de raiva humana produzida em cultura de células é também iniciativa do professor para substituir o imunizante produzido em cérebro de camundongos neonatos, que pode induzir doenças autoimunes.
A vacina tetravalente da dengue em desenvolvimento no Butantan foi projeto de Isaias. O estudo clínico de fase 2 mostrou eficácia e segurança, o que justificou o ensaio clínico de fase 3, em andamento —outro exemplo da sua sabedoria em desenvolver vacinas relevantes.
Há de se destacar, ainda, a implementação da produção da vacina da influenza sazonal para proteger também de influenzas pandêmicas. Assim, o cientista foi responsável por projetos em andamento com potencial inovador, impacto social e em saúde pública, como de produtos registrados pela Anvisa produzidos e utilizados pelo Programa Nacional de Imunização (PNI).
Essas iniciativas de Isaias no Butantan sempre buscaram equidade e benefício social para toda a população brasileira e mundial, com produtos eficazes e seguros, de qualidade e baixo custo, para uso gratuito nos programas de saúde como o PNI.
Os exemplos acima mostram a importância do professor Isaias Raw na história da saúde pública do Brasil e do Instituto Butantan, que celebra 120 anos de existência.
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