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Revolta no Paraguai

Piora da Covid gera pressão por saída do presidente Benítez, aliado de Bolsonaro

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Protesto em Assunção contra o presidente do Paraguai, Mario Benítez - Cesar Olmedo/Reuters

Elogiado nos primeiros meses da pandemia pela gestão da crise sanitária, o Paraguai mergulhou nos últimos dias em uma intensa crise política pelo mesmo motivo.

Desde sexta (5), as ruas da capital, Assunção, têm sido tomadas por manifestantes pedindo a renúncia do presidente Mario Benítez, cujos bons resultados de outrora no enfrentamento da doença transmudaram-se em fracasso.

Quando os primeiros casos de Covid-19 surgiram no continente, em março de 2020, o país fechou suas fronteiras e adotou um regime de quarentena que vigorou até o início de outubro. Em junho, quando a América Latina se convertia no epicentro da pandemia, o Paraguai registrava números baixos de infectados e mortos.

A partir de janeiro, porém, as contaminações passaram a crescer em ritmo acelerado, e há quase um mês a cifra diária de casos mantém-se acima de mil —cerca de dez vezes o anotado no início da crise. Para piorar, na semana passada, a variante brasileira do vírus, mais contagiosa, foi identificada lá pela primeira vez.

Hoje o Paraguai acumula cerca de 24,3 mil vítimas da doença por milhão de habitantes e 485 óbitos por milhão —para efeito de comparação, a taxa brasileira é mais que o dobro da paraguaia no primeiro caso, e o triplo no segundo.

Soma-se à escalada da Covid a lotação de hospitais, a falta de insumos básicos e uma desastrosa campanha de vacinação. Estima-se que, até agora, o país tenha imunizado mero 0,1% dos cerca de 7 milhões de habitantes.

A insurgência popular logo se converteu em crise política. Sob forte pressão, Benítez, um aliado de Jair Bolsonaro, promoveu uma reforma ministerial, mas os partidos de oposição pedem um julgamento político —equivalente ao nosso impeachment, mas em processo que pode ser mais rápido.

Não à toa, o instrumento vem funcionando como uma permanente espada de Dâmocles sobre a cabeça dos mandatários do país, e já ameaçou o próprio Benítez, acusado de traição em 2019 por uma negociação com o Brasil relativa à energia elétrica de Itaipu.

O cenário é volátil, e o futuro do presidente, incerto. Embora seu partido domine o Congresso, ele tem o apoio apenas de uma ala minoritária dos correligionários.

A certeza é que, em qualquer desfecho, a revolta da população paraguaia deixa um recado eloquente para outros líderes da região.

​editoriais@grupofolha.com.br

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