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Tumulto em Brasília

Acuado por centrão e empresariado, Bolsonaro troca ministros e causa inquietação

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O presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Planalto - Ueslei Marcelino/Reuters

Jair Bolsonaro foi mais uma vez fiel ao seu estilo ao deflagrar nesta segunda-feira (29) uma tentativa atabalhoada de reorganização do seu governo, remanejando de surpresa várias peças importantes.

Algumas mudanças emitem sinais inquietantes, como a demissão do general Fernando Azevedo. Ele estava à frente do Ministério da Defesa desde a posse de Bolsonaro e exercia papel moderador, como anteparo contra os avanços autoritários do presidente.

Ao se despedir, Azevedo fez questão de destacar a importância de preservar as Forças Armadas como instituições de Estado, num momento em que a crescente ocupação de cargos por militares prejudica sua imagem ao confundi-las com os desacertos de Bolsonaro.

Azevedo será substituído pelo general Braga Neto, hoje ministro da Casa Civil, para onde será transferido outro general da reserva, Luiz Eduardo Ramos, que chefia a Secretaria de Governo.

A dança de cadeiras abre espaço para que o centrão, que assumiu neste ano o comando da Câmara e do Senado, tenha a deputada Flávia Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo, chave para a interlocução com o Congresso.

O ministro da Justiça, André Mendonça, voltará para a Advocacia-Geral da União e será substituído pelo secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, seguidor de Bolsonaro que cobiçava a pasta desde a época em que o ex-juiz Sergio Moro ainda tinha emprego em Brasília.

Acuado por pressões do centrão e do empresariado, Bolsonaro também decidiu substituir Ernesto Araújo, o diplomata de ideias tresloucadas que chefiou a política externa nos últimos dois anos, por Carlos Alberto Franco França.

Nunca faltaram bons motivos para o presidente demitir Araújo. Nas últimas semanas ele se tornou alvo preferencial do Congresso, que passou a culpá-lo pelas dificuldades enfrentadas pelo Brasil na busca de vacinas para enfrentar a pandemia de Covid-19.

A gestão desastrosa do chanceler no Itamaraty afastou o Brasil de seus maiores parceiros comerciais, obstruiu canais de diálogo essenciais para a defesa dos interesses brasileiros e impôs à imagem do país vexames sucessivos.

Mas os retrocessos são resultado de uma parceria desenvolvida pelo presidente com Araújo, não apenas das ações do auxiliar inepto, e levará tempo para reconstruir as pontes que os dois dinamitaram.

Se as mudanças iniciadas nesta segunda abrem caminho para uma necessária correção de rumos, apostar numa reviravolta seria superestimar a capacidade de Bolsonaro de acertar na escolha dos seus ministros e subestimar os desafios à sua frente.

editoriais@grupofolha.com.br

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