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Carta de empresários e economistas mostra isolamento crescente de Bolsonaro

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Jair Bolsonaro e a primeira-dama, Michele, recebem apoiadores no Palácio da Alvorada. O grupo comemorou o aniversário do presidente - Raul Spinassé/Folhapress

É fato bem documentado que os mercados, em especial os financeiros, reagiram favoravelmente à vitória eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018, seja por crença na agenda reformista liberal por ele abraçada de última hora, seja por rejeição ao programa do adversário petista, Fernando Haddad.

Claro está também, entretanto, que há muito a confiança porventura depositada em Bolsonaro e em seu ministro da Economia, Paulo Guedes, vem se esvaindo. Os mesmos mercados o demonstram à farta de sua maneira mais eloquente —por meio dos preços.

Para ficar num único exemplo, as cotações da moeda brasileira desabaram, em intensidade não testemunhada nas outras grandes economias ricas e emergentes, ao longo do ano perdido de 2020 e neste trágico início de 2021.

Agora, o desgoverno mortal da pandemia e, por extensão, da economia chegou ao ponto de provocar uma raríssima manifestação aberta de vozes de peso nos mundos empresarial e financeiro contra o presidente da República.

Em carta aberta divulgada no domingo (21), já com mais de 1.500 nomes, entre eles banqueiros, empresários, ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central, denunciam sem meias palavras a inépcia, a negligência e a sabotagem às políticas sanitárias por parte da administração federal.

“O desdenho à ciência, o apelo a tratamentos sem evidência de eficácia, o estímulo à aglomeração e o flerte com o movimento antivacina caracterizaram a liderança política maior do país”, diz o texto, sem necessidade de citar nomes.

Apontam-se, ainda mais objetivamente, o vergonhoso atraso da imunização, a ausência de uma coordenação nacional do combate à pandemia, a falta de planejamento do auxílio emergencial e a necessidade de estímulo ao uso de máscaras e ao distanciamento social.

São críticas duríssimas e poderosas, que Bolsonaro não pode atribuir a conspirações da esquerda, da imprensa ou de algum outro de seus fantasmas habituais.

Embora o presidente preserve o apoio de uma parcela minoritária, mas ainda expressiva, do eleitorado, sua patifaria irracional o isola crescentemente dos setores organizados da sociedade. Em tal cenário, mesmo os partidos que a ele vendem seu apoio no Congresso hesitam —ou elevam seu preço.

Está-se diante de um governo que já nomeou seu quarto ministro da Saúde durante a pandemia. E que trata como coisa normal o escolhido não assumir o posto depois de uma semana, enquanto o país conta mais de 2.000 mortes diárias.

Bolsonaro mantém chances de se fortalecer com o avanço da vacinação, a recriação do auxílio emergencial e alguma retomada da economia. Ironicamente, ele próprio é o maior obstáculo a tais melhoras.

editoriais@grupofolha.com.br

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