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Atentado público

Com demissão de delegado que cumpriu seu dever, Bolsonaro afronta o Estado

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O delegado Alexandre Saraiva, exonerado do posto de chefe da PF no Amazonas - Reprodução Globonews

O delegado Alexandre Saraiva, da Polícia Federal, honrou a autonomia e o destemor que se espera de uma instituição crucial do Estado ao agir contra a inadmissível pressão do antiministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, em favor de madeireiros sob investigação.

Como se trata do governo Jair Bolsonaro, Saraiva, em vez de receber apoio, elogios ou uma promoção, foi exonerado do posto de chefe da PF no Amazonas —enquanto Salles, que há muito deveria ter sido demitido, pode comemorar uma vitória que manchará ainda mais a imagem do país.

O ministro havia adotado a iniciativa absurda de alistar-se contra a PF na companhia de empresários flagrados na maior apreensão de madeira ilegal realizada pela instituição, como se ele e o superintendente ora defenestrado não integrassem a mesma administração.

O delegado retrucou, na Folha, com críticas à investida do titular do Ambiente. Em frase lapidar, afirmou que “na Polícia Federal não vai passar boiada”. Depois, apresentou notícia-crime contra o ministro no Supremo Tribunal Federal.

A permanência de ambos no governo se tornou insustentável. Não admira que Saraiva seja sacrificado para manter Salles, pois o presidente não perde oportunidade de prestigiar quem se alinha com as bandas mais predatórias no agronegócio em desfavor das florestas.

Há mais, no entanto. Vai se escancarando o sentido de mais uma troca no comando geral da Polícia Federal —a terceira em menos de dois anos e meio, com a substituição neste mês de Rolando de Souza por Paulo Gustavo Maiurino.

Sobram evidências de que Bolsonaro atua para aparelhar a PF em defesa própria, de seus familiares e de seus aliados. Ele mesmo o indicou na famigerada reunião ministerial de abril do ano passado, cujo conteúdo veio à tona na crise que levou à saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça.

Com poucos dias no cargo, Maiurino causou estranheza ao trocar o comando da coordenação de repressão à corrupção e à lavagem de dinheiro, que tem políticos entre os alvos principais, e a chefia da PF em São Paulo —além, é claro, de exonerar Alexandre Saraiva.

Não se pode subestimar o impacto deste último desmando na já degradada reputação ambiental do país. Ele se dá às vésperas da cúpula sobre emergência climática conclamada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Mas trata-se, sobretudo, de um atentado ao serviço público brasileiro, um ato que precisa ser alvo de investigação e questionamento das instituições, entre elas Ministério Público, Judiciário e Congresso. Bolsonaro e seus acólitos aviltam o Estado, com prejuízo direto para o ambiente e a sociedade.

editoriais@grupofolha.com.br

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