A vertiginosa elevação dos preços das commodities no ano passado, que se estendeu no primeiro trimestre de 2021, é uma dos surpreendentes desdobramentos da pandemia. Poucos teriam imaginado que as cotações teriam retomada tão rápida, e em alguns casos com recordes, enquanto partes da economia mundial seguem fechadas.
As razões para esse desempenho —nos 12 meses encerrados em março, o índice que agrega os preços de energia, metais e alimentos subiu 52% em dólares— estão na recuperação da demanda por esses artigos, na dificuldade em elevar a produção e nos grandes estímulos econômicos que foram adotados em diversos países.
Para o Brasil, grande produtor e exportador, esse cenário externo se afiguraria como o mais favorável possível em tempos normais. O salto das cotações das matérias-primas resulta em melhora dos chamados termos de troca, isto é, a razão entre os preços de exportação e importação, que voltou ao patamar mais elevado desde 2011.
Isso significa um ganho de renda para o país, que vê subir o valor dos itens que vende ao exterior, como minério de ferro, soja e proteína animal. Não por acaso, o saldo na balança comercial esperado para 2021 já supera US$ 60 bilhões, e há projeções que apontam para até US$ 90 bilhões.
Em relação a outros bons momentos, contudo, há uma diferença crucial. Desta vez, o ganho nos termos de troca não tem sido associado à valorização do real. O câmbio mais forte, desde que moderadamente, seria o mecanismo a materializar a transferência doméstica desse ganho externo, ao reduzir pressões inflacionárias.
Isso não está ocorrendo. Ao contrário, a queda do real impõe reajustes de preços dramáticos, com inflação no atacado acima de 40% em 12 meses e alimentos no varejo 20% mais caros desde 2020.
Na prática, os ganhos agora ainda estão mais concentrados em quem produz. A cadeia do agronegócio perfaz cerca de 20% do Produto Interno Bruto e surge como a principal beneficiária.
Por certo há algum vazamento desse impulso para outras partes da economia, como talvez já se observe pela queda do PIB menor que a esperada há poucos meses.
Mas o desarranjo inflacionário cobra seu preço, e o principal culpado é o governo, dados o vergonhoso desempenho no combate à pandemia e os riscos de descontrole do Orçamento. Corrigir esses erros é requisito para uma retomada econômica em bases equilibradas.
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