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Claudio Lottenberg

Como comparar o Holocausto com o momento atual

Disseminados nas redes, a mentira e o ódio podem levar às piores tragédias da humanidade

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Claudio Lottenberg

Oftalmologista, é presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil) e do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein

A frase “Holocausto Nunca Mais”, a ser projetada nesta quarta-feira (7) nas torres do Congresso Nacional, nos lembra como este foi um evento único e terrível na história da humanidade. E de como ele deve ser lembrado e compreendido profundamente para que nunca se repita contra qualquer grupo em qualquer lugar do mundo.

A data foi estabelecida nos anos 1950, em Israel, e o país para completamente suas atividades para relembrar e homenagear os 6 milhões de judeus e judias inocentes que foram exterminados pelo nazismo e seus aliados na Segunda Guerra Mundial simplesmente por serem judeus.

Corredor no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia - Kacper Pempel - 25.jan.21/Reuters

Ter uma compreensão correta dessa catástrofe ganha ainda mais relevância neste momento em que vivemos, de propagação do ódio e das agora chamadas fake news, que de novas só têm o nome em inglês.

Nós, judeus, assim como outros povos perseguidos, somos vítimas de ataques caluniosos e odiosos há séculos, com consequências terríveis. O que mudou agora, e para pior, é a eficiência e a rapidez com que essas mentiras podem se disseminar com as novas formas de comunicação em redes poderosas, onipresentes e tantas vezes anônimas e impunes.

Para colaborar nessa luta de toda a sociedade, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) se uniu à Fundação Getulio Vargas e lançou o “Guia para Análise de Discurso de Ódio”, que visa o esclarecimento conceitual do discurso de ódio e espera auxiliar na identificação, avaliação, regulação e sancionamento desse tipo de manifestação.

E o ódio precisa da mentira para prosperar. Como bem disse Hannah Arendt, a grande pensadora judia alemã: “O súdito ideal do totalitarismo não é o nazista convicto nem o comunista convicto, mas as pessoas para quem a diferença entre o fato e a ficção, entre o verdadeiro e o falso não mais existe”.

E uma das falsidades mais recorrentes nesta pandemia tão dura e tão sofrida são comparações do momento atual com o Holocausto, geralmente por motivações políticas. Da esquerda à direita, militantes e mesmo lideranças comparam eventos relacionados à Covid-19 com a tragédia perpetrada pelos nazistas em solo europeu oito décadas atrás.

Não há comparação possível do que vivemos hoje com a experiência das câmaras de extermínio de Auschwitz ou com as estrelas amarelas que os judeus eram forçados a usar pelos nazistas. Essas comparações, venham de onde vierem, serão sempre lamentadas e condenadas pela comunidade judaica porque banalizam um evento tão importante da história do mundo.

A única comparação possível da situação atual com o Holocausto é compreender que a mentira e o ódio, hoje disseminados quase livremente nas redes, podem ter como resultado as piores tragédias da humanidade.

Há sinais cada vez mais fortes e assustadores da promoção de ideias e mentiras supremacistas, antijudaicas e antidemocráticas no nosso país. A comunidade judaica brasileira está engajada na defesa da democracia e da tolerância, pois sabemos muito bem que sem elas estaremos de novo nas trevas.

Os textos judaicos recomendam que devemos, cada um de nós, trabalhar para tornar o mundo melhor. E alertam que não devemos nos intimidar pela enormidade da tarefa. Não somos obrigados a completar missão tão enorme, mas não podemos abandoná-la.

Não ao discurso de ódio. Não às “fake news”. Holocausto nunca mais.

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