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Rafael Chang

Competitividade: os interesses dos brasileiros devem prevalecer

Incentivos devem ter tempo determinado, justamente para manter o equilíbrio de mercado

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Rafael Chang

Presidente da Toyota do Brasil

A indústria automotiva foi um dos setores fortemente afetados em 2020 pela pandemia de Covid-19. Suspendemos atividades, readequamos produção, fizemos o possível para proteger a maior quantidade de empregos e continuamos nos adaptando e aprendendo. Mas agora é hora de olhar para o futuro em médio e longo prazos. Vale dizer que é um futuro que não parece pautado por decisões simples nem que, até o momento, interessam ou ofereçam oportunidade a todos com isonomia. Longe disso, estamos diante de decisões mais duras, mas que precisam mudar o status quo e proteger o interesse dos brasileiros de forma mais abrangente.

Pode parecer incomum a alguém como eu, que sou estrangeiro, fazer tais afirmações. Mas foi justamente o que aprendi morando em diversos países, operando em condições muito complexas, mas sempre com o olhar da cultura japonesa —tão característica à Toyota. É preciso pensar para além dos muros da empresa. Todos nós, do setor privado, somos responsáveis por buscar, junto ao governo, soluções para os dilemas da sociedade. Resolver esses desafios pode passar, por exemplo, por fomentar uma agenda de exportação mais expressiva, inserindo o Brasil nesse mapa global —já temos aqui o protagonismo e bom exemplo do agronegócio.

Não há empresa bem-sucedida sem uma sociedade que tenha poder e liberdade de compra. É preciso pensar no coletivo, ainda que as decisões sejam complexas.

Nós, empresários, temos de equilibrar a decisão para proteger as pessoas com a manutenção da operação e, consequentemente, o emprego. E observamos que o governo tem avançado em decisões muitas vezes impopulares, como reduzir incentivos à indústria, inclusive a automobilística.

Não somos contra incentivos, pois eles contribuem para potencializar a inovação. Mas eles devem ser precisos e por tempo determinado, justamente para manter o equilíbrio de mercado e não criar injustiças de competitividade. Nesse sentido, vemos com bons olhos a PEC 186, que trata da redução dos gastos tributários a 2% do PIB em oito anos. Essa medida, em especial, ainda proporciona um melhor ambiente de negócios, uma vez que trata de condições mais justas para competição entre empresas. Também melhora a previsibilidade ao definir regras claras para o planejamento dos novos projetos e investimentos das empresas no país.

É preciso olhar a floresta, não as árvores. Talvez estejamos agora diante da oportunidade de realmente olhar todo o Brasil e entender e potencializar a vocação de cada uma de suas regiões para termos melhores entregas à sociedade. E que bom que o país já tem uma economia diversificada, ou seja, já há um caminho para direcionar melhor ecossistemas locais já estabelecidos, que provavelmente precisem de menos incentivo do governo para compensar deficiências ou custo de operação das próprias empresas.

A pandemia trouxe dor e desalento, mas também pode ser o choque que faltava para pensarmos em políticas mais amplas que possam melhorar o Brasil para todos.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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